FOLHA DE S. PAULO - 05\11
SÃO PAULO - As tecnologias aplicadas à produção de alimentos e a exploração empresarial da terra ajudam a tirar bilhões de seres humanos da miséria. Mas frustrou-se o aluno que, ao prestar o Exame Nacional do Ensino Médio neste fim de semana, tenha procurado uma resposta nesses termos.
Nada disso. A expansão dos alimentos transgênicos está relacionada às "desigualdades sociais".
Ponto para quem foi induzido a pensar de um só lado durante anos a fio nos bancos escolares.
E o avanço da irrigação nas plantações? Melhorou a produtividade? Estabilizou o abastecimento de comida? Não. Na prova do Enem, é preciso responder que essa técnica levou ao "agravamento da poluição hídrica". Ou que desviou o curso dos rios.
No exame, estudantes percorreram uma litania marxista a pretexto das trabalhadoras do babaçu no norte do país. O termo "quebradeira de coco", diz o texto citado no teste, "assume o caráter de identidade coletiva", pois as mulheres "reconhecem sua posição e condição desvalorizada pela lógica da dominação".
Ao final, é claro, era só marcar a alternativa que culpava os fazendeiros.
O jargão rebarbativo das ciências sociais "progressistas" correu solto. Para a questão citando o "discurso da disciplinarização dos corpos" (tratava da aversão à gordura na sociedade), a resposta mencionava a "culpabilização individual".
Sociólogos e antropólogos podem ver poesia em passagens como "portadora de memória, a paisagem ajuda a construir os sentimentos de pertencimento". Mas tente entender, leitor. Agora imagine um garoto de 17 anos obrigado a decifrar esses atentados à linguagem franca, numa prova para quase 6 milhões de brasileiros.
O Enem pode ter algumas vantagens. Do ponto de vista das ciências humanas, entretanto, vai exacerbar a transformação de plataformas pedagógicas parciais e militantes em verdades gabaritadas.
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