Correio Braziliense - 05/11
Os estadunidenses estão há alguns dias em processo de votação. Lá, diferentemente do Brasil, não tem essa de caracterizar o dia da eleição como "a festa da democracia". Amanhã, data oficial do pleito, não será feriado e, quem preferir cuidar da própria vida em vez de votar, ok. O voto não é obrigatório. Também não se escolhe diretamente o presidente. O eleitor elege os delegados de cada estado. Quem obtiver mais votos num estado, leva todos os delegados que aquela unidade da Federação tem direito dentro do colégio eleitoral. Bem diferente do nosso sistema: um eleitor, um voto. Apesar do sistema diferente, brasileiros e americanos têm um sentimento em comum na hora do voto: a economia.
O empate nas pesquisas entre o presidente Barack Obama e o republicano Mitt Romney nada mais é do que reflexo da incerteza sobre o futuro nessa seara. No Brasil, sempre que a situação é boa, o eleitor não arrisca. Não por acaso, elegeu Fernando Henrique Cardoso em 1994, o fiador do Plano Real, e o reelegeu em 1998. Só quando a economia deu aquela sacudida, embalada pela série de crises externas, é que o eleitor optou por Lula. Da mesma forma, em 2010, a situação não estava das piores e o Brasil escapou da crise internacional. Portanto, entre a mudança representada por Serra e a continuidade, representada por Dilma, o eleitor preferiu não arriscar.
Da mesma forma que os brasileiros, os americanos também não ligam muito para a parte comercial da política externa na hora de escolher seu candidato. "Política externa envolvendo acordos comerciais não mexe com o eleitor. Esse tema só entra quando mexe na segurança nacional, caso, por exemplo, do ataque à embaixada americana na Líbia", comenta o analista político Lucas de Aragão, da Consultoria Arko Advice, que está em Nova York e de lá acompanha cada lance da disputa entre Romney e Obama. Ele cita como exemplo os 50 eleitores indecisos que nem moveram o ponteiro de seus sensores, quando Romney declarou num dos debates que iria promover mais acordos de livre comércio com a América Latina.
A declaração de Romney foi registrada aqui no Brasil. Afinal, reza a tradição que os republicanos são menos protecionistas que os democratas na hora de cuidar dos acordos comerciais, o que é bom para o Brasil. Mas, lá, o que interessa aos americanos são os seus próprios empregos. Nesse sentido, depois de analisar os mapas dos estados e as perspectivas de cada candidato, o analista da Arko coloca Obama na condição de favorito, embora as pesquisas demonstrem empate técnico. "O comparecimento dos democratas geralmente é maior, e Obama precisa de 27 votos para vencer, uma vez que já tem os maiores estados. Romney precisa caminhar mais", afirma.
Enquanto isso, no Brasil...
Por aqui, o resultado da eleição americana, seja qual for, não influenciará. Até porque, com a taxa de desemprego em 7,8%, o presidente dos Estados Unidos estará mais preocupado em colocar a sua economia em dia do que cuidar da relação com América Latina. Da mesma forma, o governo Dilma Rousseff está mais voltado à manutenção do poder de compra do brasileiro e de projetos que alavanquem o PIB. Não por acaso, Dilma recebe amanhã num jantar a cúpula do PMDB e a do PT. A ideia é deixar a base mais azeitada nesse período de conversas sobre a presidência da Câmara e do Senado, em que começa a surgir um zum-zum-zum sobre candidaturas alternativas até mesmo dentro do PT, embora ninguém acredite que exista alguma brecha para isso.
Além de deixar claro o apoio aos candidatos do PMDB para presidir o Senado e a Câmara, Dilma deseja fortalecer a relação entre os dois partidos para evitar rusgas que possam comprometer o bom andamento de projetos importantes para o governo no Congresso. Nesse pacote está, por exemplo, a distribuição dos royalties do petróleo, que entra na pauta amanhã. Vamos aguardar os desdobramentos.
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