FOLHA DE SP - 08/11
SÃO PAULO - Barack Obama foi eleito em 2008 com a promessa de ser um presidente acima de divisões pessoais e partidárias. O termo pós-racial, em sua fala, ganhou respeito e não apenas suspiros de incredulidade. Uma nova era na política parecia se abrir.
A reeleição, ontem, é um banho de realidade. Obama perdeu por 27 pontos percentuais entre homens brancos (a diferença era de 16 pontos há quatro anos). Ele, presidente charmoso, antenado e com família modelo, teve menos votos entre eleitores que se dizem independentes do que Mitt Romney, que pede corte de verbas para a saúde dos
velhinhos e se cercou de malucos que não acham um problema sério gravidez por estupro.
Obama escanteou a agenda bipartidária (não só por sua culpa), fez uma aposta na divisão do eleitorado americano e venceu. Os EUA nunca foram tão desunidos, já se sabe, mas alguns números mostram cruelmente como raça, renda e religião ainda definem a política do país. O presidente teve 96% dos votos de mulheres negras, 60% do apoio entre os mais pobres e 70% entre os sem religião. Índices longe das margens de erro.
Obama tem a seu lado os hispânicos, um grupo ascendente demograficamente, e o eleitorado mais jovem, que não o abandonou completamente. Joga com o futuro, enquanto os republicanos têm no colo uma bomba populacional: parece não haver mais americanos brancos em quantidade suficiente para mantê-los no poder.
Ele agora terá de decidir que presidente será no segundo mandato: um líder que aproveita a nova chance para negociar um legado compatível com sua capacidade política; ou um líder que governa com a base tradicional democrata, joga com as transformações na sociedade e passa à história como o líder que matou o conservadorismo americano. É bom lembrar de um presidente que tentou algo parecido no passado recente, com sinal invertido: George W. Bush. Terminou como nanico.
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