segunda-feira, novembro 26, 2012

Oposição em concerto - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 26/11


SÃO PAULO - Enquanto no Brasil a saída do regime autoritário enveredou pela oposição aberta, entre PT e PSDB, no Chile deu-se a "Concertación". A partir de 1990, o pacto entre democratas-cristãos e socialistas elegeu quatro presidentes chilenos na sequência.

O modelo remeteu para dentro da aliança governista as disputas entre as duas correntes ideológicas majoritárias. Uma divisão salomônica de candidaturas e postos de governo entre essas vertentes estabilizou o bloco e lhe deu vida longa no poder.

Longa, mas não eterna. Duas décadas de hegemonia foram interrompidas em 2010, com a vitória do magnata liberal Sebastián Piñera, adversário da "Concertación".

Se o Chile experimenta uma ruptura no modelo da oposição administrada, no Brasil a força gravitacional da política passa a atrair os corpos partidários, a despeito de ideologia ou base social, para o centro do poder. Nasce, sem anúncio, a Concertação brasileira?

O dobrar de joelhos do governador tucano Geraldo Alckmin diante do assédio federal na segurança pública é apenas o episódio mais recente desse fenômeno. A cabeça cortada do secretário Ferreira Pinto deve estar sendo erguida como troféu em Brasília.

Dissemina-se na política e na sociedade, como se fosse a verdade das Escrituras, a opinião de que o sucesso eleitoral depende de seguir o mesmo caminho e as mesmas escolhas do bloco liderado pelo PT. Alckmin vai resistir ao cerco para instituir cotas raciais nas universidades públicas paulistas? Parece que não.

Nesse processo de repressão da divergência, importantes segmentos de opinião, capazes também de determinar a vitória eleitoral, perdem representação na política. Como atesta o caso chileno, essas correntes acabam por encontrar, cedo ou tarde, quem vocalize os seus pleitos.

Melhor que seja um partido estruturado do que um aventureiro.

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