segunda-feira, novembro 26, 2012

Movimentos em série - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 26/11

Há tempos uma operação da Polícia Federal não chega tão perto da Presidência da República quanto a Porto Seguro. Atingir a Presidência na figura da chefe do escritório em São Paulo, Rosemary Noronha, ou a Advocacia-Geral da União (AGU) pode ser um sinal de que as instituições estão para lá de vulneráveis no que se refere à lisura no setor público.

Ao mesmo tempo em que a vulnerabilidade existe, há a rápida ação de quem de direito gera algum conforto. Do ponto de vista político, a presidente Dilma Rousseff nunca agiu tão rápido. Deflagrada a operação, afastou de pronto a chefe do escritório paulista, Rosemary Noronha, e todos os demais integrantes de cargo de confiança, de forma a começar esta semana longe de ter que falar a respeito.

Assim, mais uma vez, transformou o que poderia ser um ponto negativo de sua gestão em algo positivo para sua imagem enquanto guardiã da boa utilização dos recursos públicos. Para o PT, que passa por uma série de problemas, o fato de Dilma ter tirado logo esse problema do colo da Presidência da República foi um alivio.

Enquanto isso, na sede do PSDB e de partidos aliados…

É bom que Dilma se preocupe mesmo com a imagem de sua gestão. Os tucanos estão prestes a concluir o levantamento sobre o ritmo lento da execução de obras e programas do governo federal, em especial, na área de infraestrutura. Com os dados em mãos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pretende desconstruir a imagem de gestora da presidente da República.

Paralelamente, os socialistas reúnem seus prefeitos esta semana, no sentido de apresentar os estados governados pelo partido como ilhas de excelência no mar do fraco desempenho do crescimento econômico.

Para que a reunião dos prefeitos socialistas não pareça mais um ato rumo à candidatura própria do PSB à Presidência da República, eles terão um encontro com a presidente Dilma. Mas, no evento do partido, não está descartado alguém manifestar de público a vontade de ver Eduardo Campos candidato a presidente em 2014.

Esse gesto — se aglutinado a outros em curso, como a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) à presidente da Câmara dos Deputados ou mesmo o levantamento dos tucanos — soará como um ataque especulativo ao futuro da presidente Dilma, enquanto pré-candidata à reeleição, dentro e fora da base governista.

Esses ataques especulativos não são privilégio do PSB ou mesmo da oposição, que está no papel de construir um discurso e uma candidatura. Daqui para a frente, veremos vários partidos trabalhando no sentido de organizar as mudanças no Fundo de Participação dos Estados (FPE) de forma a promover uma lipoaspiração no caixa da União.

Já há quem diga que, se na questão dos royalties, que ainda não terminou, se fez todo um barulho no sentido de distribuir recursos, o mesmo pode ocorrer com outras receitas da União, quando o FPE estiver em discussão. Tudo isso somado, avaliam alguns, pode terminar por expor um mar de falhas na gestão administrativa, colocando a capacidade governamental em xeque — seja diante do surgimento de casos de corrupção, seja na paralisia das obras.

E é aí que mora o perigo. Se o discurso do imobilismo pegar, Dilma terá problemas. E para que o governo e o PT não sejam atingidos por esse novo mote, a expectativa do partido é a de que Dilma seja tão rápida para responder a isso quanto o foi para afastar aqueles sujeitos indiciados por conta da Operação Porto Seguro.

Por falar em PT…

É interessante observar que a esquerda petista, que mais combateu José Dirceu quando ele era o todo-poderoso do partido e do governo Lula, é quem agora afaga o ex-ministro, promovendo atos de solidariedade. Isso somado às reuniões em Brasília com grupos do Construindo um Novo Brasil (CNB) deixa a sensação de que Dirceu conseguiu a façanha de unir o PT nesse pior fase de sua trajetória política. Quem diria…

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