FOLHA DE SP - 25/11
A aceleração do crescimento nos anos Lula se deveu à melhora tecnológica ou ao ganho de eficiência
No período Lula, a economia cresceu ao ritmo de 4% ao ano: 3,5% no primeiro mandato e 4,5% no segundo. Essa taxa de crescimento foi bem superior à observada no governo Fernando Henrique Cardoso.
A coluna de hoje trata da natureza da aceleração do crescimento que houve entre o segundo mandato de FHC e os oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para tal, emprego técnica bem simples desenvolvida por Robert Solow, acadêmico norte-americano, professor de economia do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e Prêmio Nobel de Economia.
A técnica é conhecida por decomposição do crescimento. Objetiva decompor o crescimento em seus elementos primários pela ótica da oferta: capital, trabalho e tecnologia.
O resultado desse exercício simples é que quase 100% da aceleração do crescimento que houve na passagem de FHC para Lula resultou de melhora técnica ou aumento da eficiência. Esse resultado é um pouco frustrante, pois sabemos pouco do que é exatamente essa melhora da eficiência na decomposição de crescimento de Solow.
Explico-me. O exercício consiste em observar a evolução ao longo do tempo do crescimento dos fatores de produção, trabalho e capital.
Cruzando os dados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE, que investiga a população ocupada e a jornada média de trabalho nas principais regiões metropolitanas do país, com os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), também do IBGE -que, entre inúmeras variáveis, apresenta a população ocupada e a jornada média de trabalho para o mês de setembro de cada ano em todo o território nacional-, é possível construir uma série mensal de horas trabalhadas com abrangência nacional.
O estoque de capital é construído a partir do investimento sob a hipótese de uma taxa de depreciação constante e de que há um hiato de um ano entre o investimento e sua maturação na forma de aumento da capacidade produtiva.
O estoque de capital é o agregado de todas as máquinas, equipamentos, estruturas além da infraestrutura de transportes, portos etc., que auxilia o trabalho na produção.
Na primeira linha da tabela, encontra-se representada a taxa de crescimento média no segundo mandato de FHC, que foi de 2,7% ao ano. Esse crescimento é decomposto em 1,0% atribuído ao crescimento do estoque de capital, -0,1% atribuído à pequena redução que houve no período no nível de utilização da capacidade instalada (segundo a sondagem da indústria do Ibre-FGV), 1,5% atribuído ao trabalho e 0,2% à melhora da eficiência.
Dois pontos são importantes. Primeiro, a soma de todas as partes resulta na taxa de 2,7%. Segundo: a última parcela, atribuída à melhora técnica, ou produtividade total dos fatores (PTF) no jargão da profissão, foi obtida por resíduo. Isto é, essa parcela resulta da subtração dos demais fatores do crescimento total. As partes somam o todo por construção.
Na segunda linha da tabela temos as mesmas informações para os oito anos do governo Lula. O crescimento de 4,0% ao ano pode ser decomposto em 1,0% para o capital, 0,3% para a utilização, 1,3% para o trabalho e 1,3% para a melhora técnica.
Houve, portanto, entre o segundo mandato de FHC e os oito anos de Lula, uma aceleração do crescimento de 1,3% (4,0%-2,7%). Como indicado na última linha da tabela, praticamente todo esse ganho de renda foi devido à melhora tecnológica ou ao ganho de eficiência.
A grande dificuldade de interpretarmos a aceleração do crescimento que houve no governo Lula deve-se a esse fato. Durante seus dois mandatos, não houve aceleração no emprego do fator trabalho nem aumento do investimento.
Dado que o ganho tecnológico ou o ganho de produtividade total dos fatores é um resíduo, é difícil atribuirmos um significado muito imediato a esse ganho.
Por ora, o que podemos afirmar é que, aparentemente, ao longo dos oito anos do governo Lula, a economia conseguiu extrair mais crescimento do mesmo nível de expansão do emprego do capital e do trabalho.
O espaço da coluna acabou. Deixo para a próxima coluna as especulações dos possíveis motivos que explicam essa melhora na eficiência. Trata-se de tema importante para entendermos melhor a queda de potencial de crescimento que aparentemente afeta a economia na atual administração.
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