O GLOBO - 17/11
Ameaça de invasão terrestre de Gaza por Israel reserva ao Egito sob liderança islâmica papel decisivo de moderador. Apoio de EUA e França é indispensável
O mundo está à beira de assistir a uma nova invasão terrestre da Faixa de Gaza por tropas israelenses — há um banho de sangue a caminho. A escalada começou no dia 14, com um ataque “cirúrgico” israelense que matou o líder militar do Hamas, Ahmed Jaabari. Na retaliação, o Hamas, que governa Gaza, exibiu poder de fogo inédito, alvejando Tel Aviv com foguetes, cidade atingida pela última vez há 21 anos, na Guerra do Golfo. Outro foguete matou três civis israelenses na cidade de Kyriat Malachi. Ontem, um desses artefatos caiu nas cercanias de Jerusalém, o que não ocorria desde 1970. Cerca de 600 alvos já haviam sido atingidos pelos israelenses, e aumenta o número de palestinos mortos. Os moradores da pequena e superpovoada região temem a repetição da Operação Chumbo Fundido, uma campanha de três semanas de bombardeios e invasão por terra das forças israelenses entre o Natal e o Ano Novo de 2008-2009, na qual morreram 1.400 palestinos, em sua maioria civis, e 13 israelenses.
O drama parece familiar, mas as circunstâncias são diferentes. A mudança mais importante foi o fim da ditadura Mubarak no Egito e a eleição de um presidente da islâmica Irmandade Muçulmana, inspirador do Hamas. Depois das preces de ontem, Mohamed Morsi afirmou: “O Egito não deixará Gaza sozinha. Falo em nome do povo egípcio que o Egito hoje é diferente do de ontem, e os árabes também.” Morsi chamou de volta seu embaixador em Israel, convocou o embaixador israelense no Cairo e enviou seu premier, Hisham Qandil, à Faixa de Gaza, para prestar solidariedade. O presidente egípcio está sob duro teste: deve mostrar que “o Egito de hoje é diferente do de ontem”, sem que isto desagrade os EUA ou ameace o acordo de paz com Israel. E a missão de Qandil incluía a tentativa de mediar um cessar-fogo.
Mais do que nunca, as areias do Oriente Médio são movediças. Há uma guerra civil na Síria que ameaça engolfar os vizinhos Turquia e Israel. A Síria recebe apoio do Irã xiita e seu colapso significaria um golpe para Teerã, pois muito provavelmente Damasco cairia sob domínio sunita. A situação interna no Irã se torna mais tensa à medida que a economia do país sofre com as sanções internacionais para deter seu programa nuclear. A ala moderada dos palestinos, liderada por Mahmoud Abbas, vai reivindicar na ONU a elevação de seu status de “entidade observadora” para “Estado observador”. O Hamas discorda e Israel afirmou que derrubará o governo Abbas na Cisjordânia se isto ocorrer.
É hora de a diplomacia atuar vigorosamente para esfriar os ânimos. Três presidentes têm papel decisivo. Barack Obama, que comanda o país mais influente na região e tem agora a autoridade reforçada pela reeleição. François Hollande, que tornou a França o primeiro país do Ocidente a reconhecer a oposição síria como o único representante legítimo do povo sírio. E o egípcio Morsi. Que não seja tarde demais.
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