RIO DE JANEIRO - Quando foi lançada pela Nasa em 1977, a sonda Voyager 1 era o fino em viagem espacial. Saía cantando pneus, fazia curvas em duas rodas e voava a 50 mil km/h. Levava um disco -o que chamávamos de LP (long playing) e hoje chamam de vinil-, só que de cobre folheado a ouro, contendo "mensagens" gravadas para hipotéticos extraterrestres que o achassem e o botassem para tocar.
Intitulava-se "The Sounds of Earth" e está lá até hoje, esperando ser escutado. A ideia era mostrar aos alienígenas aonde tínhamos chegado em cultura e civilização, e começar um futuro diálogo. Como tendemos a esquecer o passado e achamos que nosso tempo é que importa e ficará para sempre, o disco é todo sobre 1977. E, por ter sido gravado pelos EUA, concentra suas informações na vida americana, com poucas concessões a nós, os macacos.
Em 1977, pelos sons que a Terra gravou, os terráqueos não faziam outra coisa a não ser dançar -ao som de Donna Summer, Bee Gees, John Travolta, Olívia Newton-John e de um grupo brasileiro, as Frenéticas. Dançar era uma nova filosofia de vida, e seus templos de recolhimento e meditação chamavam-se discotecas. Elvis Presley, avô de tudo aquilo, tinha acabado de morrer, levando consigo suas camisas tacheadas e de golas estratosféricas, inspiradas nas de seu amigo, o pianista Liberace.
O disco certamente continha trechos de áudio do filme "Guerra nas Estrelas", que converteu as plateias à súbita menoridade; da novela da Globo, "A Escrava Isaura", que seria a paixão do comandante Fidel Castro; e passagens dos livros de memórias fictícias de Lillian Hellman, lidas por Jane Fonda. Era o que havia. Não admira que, até hoje, nenhum E.T. tenha acusado recebimento.
Os EUA não se emendam. Vão mandar outro disco para o espaço, contendo os sons de 2012. Deverá abrir com Michel Teló.
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