O GLOBO - 10/09
Os investimentos no petróleo estão mudando de direção e o governo age como se nada estivesse acontecendo
Cerca de 60% dos investimentos da indústria de petróleo vinham se concentrando nos países em desenvolvimento. Agora essa relação se inverteu, e por causa da exploração do gás de xisto nos Estados Unidos e até na Europa, as nações mais ricas passaram a ficar com 60% e as economias em desenvolvimento com 40%. Mas o governo brasileiro se comporta como se não tivesse ocorrido essa reviravolta. A política para o petróleo foi alterada no fim do governo Lula pressupondo que a descoberta dos reservatórios do pré-sal havia eliminado o risco da exploração de petróleo no Brasil. E na suposição equivocada que a Petrobras estaria nadando em dinheiro fácil, o governo traçou a nova política prevendo que os investimentos poderiam ser bancados pela estatal, sem necessidade de atrair outras companhias para prospectar futuros campos, mesmo em áreas fora da "picanha azul", a região no mar onde é possível se encontrar bons reservatórios de óleo e/ou gás na camada do pré-sal.
Este ano tivemos uma amostra do que pode acontecer na próxima década, se mantida essa política de fechamento do mercado. A produção nacional de petróleo parou de crescer, enquanto o conjunto da indústria ficou de braços cruzados aguardando rodadas de licitação, para exploração de blocos sob regime de concessão, suspensas há mais de cinco anos.
O astral da indústria em relação ao Brasil é de desapontamento, caminhando para o descrédito. Chega a ser um contrassenso, uma perda de oportunidade, pois o que mais a economia brasileira precisa são de investimentos para acelerar seu crescimento. A Petrobras responde por 95% da produção nacional. No entanto, já existem mais de vinte outras companhias operadoras, consorciadas a grupos de investidores, dispostas a aumentar sua participação no país.
Coisas conectadas
Grandes fabricantes de equipamentos de telecomunicações preveem que nos próximos cinco anos o Brasil chegará a ter dois bilhões de conexões, dos quais cerca de 1,5 bilhão entre "coisas", e os 500 milhões restantes entre pessoas e lugares. Atualmente o Brasil tem cerca de 390 milhões de conexões, entre pessoas e lugares. Nesse 1,5 bilhão de conexões entre "coisas" estarão, por exemplo, automóveis que sairão de fábrica equipados para enviar informações em tempo real aos proprietários e agentes autorizados. Será possível rastreá-los permanentemente. Outras "coisas" (medidores do consumo de energia elétrica, etc.) que precisam estar conectados com a internet e as redes de telecomunicação, para transmissão automática de informações em tempo real, complementarão essa lista. Os fabricantes preveem uma progressiva troca de celulares comuns por "smartphones," conectados à internet em alta velocidade. Notebooks também já serão oferecidos com modems embutidos e conexão automática. A Positivo está fechando acordo com as operadoras de telefonia para lançar no mercado, brevemente, seus primeiros equipamentos portáteis com essas características.
Ou seja, o montante de investimentos em telecomunicações terá de aumentar muito nesses próximos anos. Por isso, para evitar os conflitos que têm surgido com prefeituras na instalação de antenas (ERB) e realização de obras nas ruas, o governo federal estabelecerá regras para que as empresas do setor compartilhem infraestrutura.
Realmente não faz sentido criar uma "floresta" de antenas nas cidades, e nem autorizar obras para passagem de cabos de fibra óptica operadora por operadora.
Trem "bão"
Há muitos trens de passageiros com quase 60 anos ainda circulando no Rio. Aos poucos estão sendo substituídos, mas existe uma motivação a mais para acelerar esse processo: a economia de energia. A maior parte dos trens antigos, com tração elétrica, tem seus motores preparados apenas para corrente contínua. Os trens elétricos estão adaptados para corrente alternada e consomem bem menos eletricidade. Como o governo federal em breve anunciará medidas que visam à redução do custo de energia para a indústria, as autoridades do Estado do Rio estão propondo que esse corte de tarifa se estenda às empresas de trens de passageiros e metrôs, atrelando-se os recursos poupados a um programa de troca dos comboios. A demanda do Rio e de São Paulo por novos trens ultrapassa a casa dos mil carros, o que por si só justificaria uma política industrial para que os fabricantes locais reconquistem esse mercado, hoje perdido para chineses e coreanos. A indústria brasileira tem capacidade para produzir 10 mil vagões de carga e dezenas de locomotivas por ano mas não consegue ser competitiva em novos trens de passageiros.
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