FOLHA DE SP - 16/09
O Brasil cresceu a taxas aceleradas de 2004 a 2010, dobrando a taxa média de crescimento de décadas precedentes. O principal motor disso foi o bônus resultante da estabilização econômica.
O país, que sofria frequentes crises cambiais, fiscais e de hiperinflação, conquistou, no início do século 21, a almejada estabilidade. Ela trouxe sensível redução dos riscos econômicos, como os de crise cambial, fiscal ou inflacionária. E tornou possível confiar no país, planejar e sonhar com um futuro melhor.
Resultado tangível desse processo foi a queda da taxa de juros e o crescimento acelerado do crédito. A taxa de juros real caiu de 14 pontos percentuais acima da inflação em 2003 para menos de 6 pontos em 2010, com inflação na meta. E seguiu caindo. A queda de juros e a maior previsibilidade permitiram dobrar a oferta de crédito, para o equivalente a quase 50% do PIB.
Juro menor e crédito maior foram fatores importantes do forte crescimento, assim como o aumento do horizonte de planejamento para empresas e famílias e a expansão do mercado de capitais com novas fontes de financiamento.
Essa conjunção permitiu outro resultado da estabilização: a queda do desemprego, de mais de 12% em 2003 para abaixo de 6%.
O desemprego elevado no início da estabilização forneceu oferta farta de mão de obra sem pressionar os custos das empresas que buscavam elevar a produção. E a alta do emprego e da renda permitiu criar um mercado doméstico robusto.
Mas esse bônus da estabilidade está se esgotando. O desemprego dificilmente cairá mais, e o crédito tende a desacelerar à medida que limites de endividamento de famílias e empresas são atingidos.
Por isso, a taxa média de crescimento tenderia a diminuir mesmo sem fatores conjunturais como crise na Europa e nos Estados Unidos.
Agora, o Brasil passa do aproveitamento do bônus da estabilidade à fase da produtividade. Para crescer a taxas elevadas, o país precisa aumentar a produtividade com os investimentos em infraestrutura e educação, a reorganização do sistema de trabalho e as desonerações fiscais horizontais. Isso não só é necessário como é possível.
Era difícil investir em produtividade com volatilidade e planejamento curto. Depois, na estabilização, as empresas buscaram basicamente elevar a produção para atender à nova demanda. Agora, consolidada a estabilidade, é possível planejar e investir em produtividade.
Da mesma forma como superamos as grandes crises do passado, ao consolidarmos uma consciência geral do problema, o Brasil terá condições de focar, investir e ganhar produtividade.
É um processo já em curso.
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