domingo, setembro 16, 2012

Fumo, quer dizer, rumo ao Uruguai - AGAMENON


O GLOBO - 16/09

No Uruguai, o plantio de maconha ainda é feito de maneira artesanal: assim que acaba a colheita, a maconha é prensada com os pés pelos agricultores

´Ôlê, lê! Ô, la, lai! Que beleza a maconha que vem lá do Uruguai!" - cantávamos, alegremente, batucando na lataria do ônibus da CVC que levava um grupo de formadores de opinião e traficantes até o Uruguai. A antiga Província Cisplatina se transformou na Meca dos Maconheiros deixando para trás a famosa Amsterdã, a fumacenta Jamaica e o Ceará. Ao lado de grandes nomes como Marcelo D2, Fumando Gabeira e o ex-presidente Apertando Henrique Cardoso, o THC, eu ia enfim conhecer de perto como o Uruguai está lidando com o problema da marofa, do jererê e da cannabis sativa.

Antes de chegar a Montevidéu, fomos visitar a famosa fazenda do Brizola, perto de Ponta Del Este. Além do enorme rebanho de bovinos, ovinos e eleitores, a fazenda do Brizola também possui enormes plantações de soja, trigo e maconha. As avançadas práticas agropecuárias da fazenda do Brizola são conhecidas internacionalmente e já renderam até uma matéria no "Globo Rural". Tudo lá é orgânico e autossustentável. Mas o que mais chama a atenção na fazenda do Brizola são seus belíssimos maconhedos. Alinhados caprichosamente, os maconhais são tratados com esmero por maconhiers da França, que, depois de muitas pesquisas, concluíram que o terroir da fazenda é extremamente favorável ao plantio de várias cepas maconhinas como Cabernet Laricon, Sujot Noir, Charodonnay e a argentina Maióbec.

Nas caves da fazenda, escuras e enfumaçadas, nos mostraram os milhares de barris de carvalho esloveno, em que as maconhas envelheciam adquirindo sabores queimados e fumosos, aumentando ainda mais os alucinógenos poderes da erva maldita. Mas a melhor parte da visita ainda estava por vir. Nos ofereceram totalmente de grátis, tudo no 0-800, uma degustação das melhores safras dos últimos tempos. No meio de tantas maconhas mitológicas que rolavam "na paulista", destaco a Da Lata de 1988 e a antológica Woodstock ano 1967 que, além de bem estruturada, tem os taninos firmes e, no nariz, um toque acentuado de frutos do bosque e bosta de vaca.

Entorpecidos pelos eflúvios daquelas parrudas maconhas biológicas, os anfitriões nos presentearam com um banquete típico. Típico de quem fuma maconha: frango assado recheado com doce de leite, panqueca de geleia com feijão e melado e churrasco de ovelha com sundae de marshmallow.

Talvez por ter exagerado no consumo daquele bagulho da melhor qualidade, de repente me vi tomado por uma inexplicável paranoia. Com medo de que a polícia chegasse a qualquer momento pra nos levar em cana, pesadelos começaram a dominar a minha mente. Comecei a ter alucinações terríveis: vi a presidente dançando nua na minha frente e Marta Suplicy no ministério da cultura. Já estava quase surtando quando ouvi as palavras sábias de Carburando Henrique Cardoso:

- Segura a onda, Agamenon! - disse o ex-presidente. - Tem que fazer igual ao Clinton: fuma mas não traga!

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