FOLHA DE SP - 16/09
A recessão europeia se aprofunda. Nos EUA, o crescimento será inferior a 2% em 2012, decepcionante diante dos prognósticos do início do ano. A taxa de desemprego segue acima de 8%, e a renda do trabalho cresce muito lentamente.
Teme-se que os cortes no Orçamento federal programados para 2013, equivalentes a 3% do PIB, lancem a economia americana em recessão. A polarização da disputa presidencial dificulta um acordo entre democratas e republicanos capaz de evitar tal desfecho.
Em face do quadro acabrunhante, o Fed decidiu ser contundente: vai despejar dinheiro no mercado, comprando títulos ao ritmo de US$ 40 bilhões mensais, pelo tempo que for necessário. Com os outros programas em andamento, a intervenção totalizará US$ 85 bilhões mensais --US$ 1 trilhão ao ano.
A ausência de um prazo definido para a compra de papéis e os termos do comunicado representam uma inovação importante. Pela primeira vez o Fed vinculou seus objetivos diretamente à queda do desemprego. Indicou, com isso, que tolerará maior risco inflacionário em troca de uma recuperação mais rápida da economia, o que causará furor na ala conservadora do Congresso.
Na Europa, o BCE também mostrou firmeza de propósito. Com aprovação quase unânime de sua diretoria --um único voto contrário, do banco central alemão-, decidiu que não fixará limites para adquirir papéis dos países da zona do euro sob ataque dos mercados.
A condição é que os governos interessados recorram ao ESM (fundo europeu de estabilização) e se submetam a um programa de ajuste para equilibrar as contas do país.
O BCE objetiva reduzir os custos da rolagem de dívidas de curto prazo, em especial na Itália e na Espanha. Mario Draghi, presidente do BCE, indicou que pretende com isso reduzir o receio de uma desintegração do euro, que vinha encarecendo esse refinanciamento.
Fed e BCE mostraram, mais uma vez, que não hesitarão em imprimir dinheiro a fim de afastar o risco de ruptura financeira. Ganham tempo para que ações de gover- no surtam efeito.
Os mercados já celebram a chance de um bom fechamento de ano, como sugere a forte alta nas Bolsas, inclusive da Bovespa. A expectativa é que o derrame de recursos pelos BCs reative a economia e o comércio internacionais, ainda que um dos efeitos desse relaxamento possa ser uma desvalorização do dólar, o que pode forçar intervenções mais fortes do BC brasileiro para conter o valor do real.
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