FOLHA DE SP - 31/08
Resistência de Russomanno e queda acentuada de Serra, caso se tornem tendências, produzirão uma situação nova na disputa paulistana
Insinua-se, de acordo com a pesquisa Datafolha publicada ontem, um quadro novo na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Está em xeque a hipótese de repetição do duelo final entre petistas e tucanos, marca de várias eleições municipais e de outros embates estaduais e nacionais.
Com uma semana de exposição ostensiva das candidaturas na TV e no rádio, aconteceu o previsto com Fernando Haddad (PT). Promovido por uma propaganda cuja qualidade técnica se destaca no cotejo com as de concorrentes, o candidato ungido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu seis pontos percentuais. Com 14%, isola-se na terceira colocação, e tudo indica que continuará a crescer.
A surpresa foi a manutenção do apoio de 31% a Celso Russomanno (PRB) e a queda de José Serra (PSDB), dados o histórico das disputas locais e a desigualdade de recursos entre as campanhas. No tempo de propaganda, os tucanos levam larga vantagem sobre todos os adversários, à exceção dos petistas. Serra, no entanto, marcou 22% de intenções de voto, perdendo cinco pontos percentuais na semana em que mais se expôs ao eleitorado.
Chama a atenção o comportamento da rejeição ao ex-governador tucano. De cada cem eleitores entrevistados na segunda e na terça-feira passadas, 43 afirmaram que de maneira nenhuma votariam no postulante do PSDB.
Já não se trata mais de oposição restrita àquele terço do eleitorado simpático a candidaturas petistas. Nos registros do Datafolha, a maior taxa de rejeição (38%) de um eleito na capital ocorreu em 1992, com Paulo Maluf, então no PDS.
Rejeição, como tudo que uma pesquisa a 40 dias da votação constata, está sujeita a grandes variações, para cima e para baixo. Cabe indagar, contudo, o que estaria influenciando tamanha recusa momentânea a Serra, eleito à prefeitura da capital em 2004 com rejeição de apenas 15%.
Talvez seja porque Serra deixou a prefeitura 15 meses após assumir, para disputar e vencer o governo estadual. Talvez porque seja responsável pela ascensão de Gilberto Kassab, prefeito mais mal avaliado na capital desde Celso Pitta. Talvez porque parte expressiva do eleitorado desconfie de quem a cada dois anos aparece pedindo votos, pouco importa o cargo ou a vocação para exercê-lo, sempre preocupado em sobrenadar na política.
São hipóteses difíceis de esclarecer com objetividade, mas que estão pautando o debate municipal nestes dias, em razão do Datafolha.
A campanha prossegue, e o período de 45 dias decisivos até o primeiro turno mal começou. A resistência de Russomanno, a subida de Haddad e a queda de Serra, bem como sua rejeição, ainda precisam passar pelo crivo das próximas pesquisas para que possam ser assentadas como tendências.
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