BRASÍLIA - Enquanto o STF condena os réus do mensalão com "gosto de jiló, de mandioca roxa, de berinjela crua", segundo o presidente Ayres Britto, a CPI do Cachoeira dá o que falar -ou o que escrever.
Há dois tipos de depoentes: o que não abre a boca e o que fala, mas não convence. Os dois mais promissores não ficaram calados, mas não disseram tudo. Apenas usaram o palco da CPI e os seus dez minutos de fama para mandar recados aos "patrões".
Num dia, o ex-diretor do Dnit Luiz Antonio Pagot contou, com a cara limpa, como se fosse a coisa mais normal do mundo, que usou o cargo para passar o chapéu para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência entre empreiteiras que tinham contrato com o órgão.
Em português bem claro, Pagot acumulava duas funções: dirigia o órgão que acertava contratos milionários com construtoras ao mesmo tempo em que arrecadava dinheiro de campanha entre elas. Como frisou, não é ilegal, mas foi uma "bobagem" e era "antiético".
Foi muito autocondescendente, mas acendeu um sinal amarelo no Planalto e na cúpula do PT, já acossada pela condenação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha por 9 a 2 no Supremo.
No dia seguinte, foi a vez de o ex-diretor de engenharia da estatal paulista Dersa, Paulo Vieira de Souza -o Paulo Preto-, mandar seus recados nada truncados, mas para um outro destinatário: o PSDB.
Como Pagot, ele também dirigia uma estatal e era arrecadador de campanhas. Acusado por tucanos de desviar R$ 4 milhões doados por empreiteiras para a campanha de José Serra à Presidência em 2010, reagiu na CPI: "São uns ingratos".
Pagot e Paulo Preto têm mais um detalhe em comum: ambos foram demitidos de seus cargos. Um é uma ameaça ambulante para Dilma e o PT; o outro, para Serra e o PSDB. Por ora, só ameaçam. Alguma coisa eles negociam para não ir às vias de fato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário