FOLHA DE SP - 31/08
É simples assim: hoje não se vende mais álcool para menores nos supermercados de São Paulo
HOJE NÃO vou dar bronca nem me indispor com quem quer que seja. NOT.
Impossível passar batido por aquela velhinha boboca da propaganda do TSE que exulta as maravilhas da Lei da Ficha Limpa. Ora, minha senhora, vá catar coquinho de andador na ladeira Porto Geral. A senhora já não foi dispensada de votar, não? Está ai proclamando as glórias de uma aberração jurídica a troco? Em que país de democracia sólida a senhora vê um arremedo como esse? Como podemos nos orgulhar de um sistema político tão falido que parte do pressuposto que todos são culpados até que se prove ao contrário?
Vai exigir o que de país que trata como herói juiz que age como a Dercy Gonçalves? Tudo bem, vá. A velhinha do anúncio é personagem de agência de publicidade e eu me dispus a não encasquetar com ninguém hoje.
Mas o leitor deste matutino que faz história deve ter lido recentemente em Tendências/Debates o artigo do jornalista e autor Luís Colombini. Muito bem-humorado, o sr. Colombini se diz cansado da falta de bom-senso e protesta contra a iniciativa conjunta do governo do Estado, da indústria e dos supermercados de pedir documento de identificação a quem aparenta ter menos de 30 anos e esteja comprando bebida alcoólica em lojas de autosserviço.
Diz o sr. Colombini que, como o governo não fiscaliza, está empurrando a conta ao varejo.
Digo eu: como assim? Que conta é essa? O varejo deseja continuar vendendo bebidas para menores?
Pela primeira vez a indústria, que nunca tinha movido uma palha, percebe que talvez não seja uma boa ideia matar todos os seus futuros consumidores e o sr. Colombini reclama de ter de sacar seu documento do bolso?
É simples assim: hoje não se vende mais álcool para menores nos supermercados de São Paulo. Está bom para o senhor, sr. Colombini? É a primeira grande vitória desde que a OMS traçou um plano de ação para conter os malefícios da bebida. O senhor Colombini deveria estar celebrando com champanhe comprado no supermercado mais próximo, que tal?
Talvez ele desconheça o fato de que menores de idade travestidas de periguetes (antigamente era de Xuxa) costumam seduzir o primeiro tiozão na porta do super para que ele lhes compre um goró. Por isso hoje o incomodam e pedem documento a senhores de "47 anos" e com as "dezenas de rugas e milhares de cabelos brancos" que ele diz ter.
A coisa saiu de controle, sr. Colombini. A sociedade começou a cobrar, a indústria sacou o tamanho da encrenca e o governo se antecipou ao tsunami.
Ninguém é o Dalai Lama, nem mesmo o Dalai Lama. Mas da mesma forma que a questão do tabaco foi endereçada, este problemaço de saúde pública também está sendo. Impossível que o senhor não perceba.
Não tem mais esse negócio de festinha de 15 anos com álcool. Se nenhum amiguinho comparecer à comemoração da sua filha porque não tinha bebida, que pena. É preciso uma mudança rigorosa de atitude.
Os caixas dos supermercados de SP estão treinados a não vender caso desconfiem de que se trate de menor. É claro que a molecada vai continuar a falsificar RG e é óbvio que, querendo mesmo, eles vão comprar. Mas a mudança de hábito já começou. Nas escolas, no comércio, nas empresas, nas ONGs, nas comunidades. Só o senhor ainda não enxergou.
PS: Só para constar, que seja público e notório, eu presto serviços à Ambev dando palestras sobre alcoolismo.
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