CORREIO BRAZILIENSE - 31/08
Há meses, um comportamento da presidente Dilma Rousseff intriga os políticos dos mais diversos partidos: por que o governo fecha acordos com o Congresso e ela termina não sancionando o que saiu aprovado do parlamento com a anuência de todos? Os vetos se sucedem em várias medidas provisórias e projetos votados em acordo pelo Congresso. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), por exemplo, com seus 25 vetos, foi um dos exemplos mais emblemáticos. Agora, a medida provisória que trata do Código Florestal, se brincar, vai pelo mesmo caminho.
Os parlamentares têm medo de tratar do tema olho no olho com a presidente da República. Mas, em conversas reservadas, perguntam-se por que Dilma não lhes pede que retire determinados artigos de certos projetos? Desconfiam que a presidente, diferentemente dos antecessores, não faz apelos diretos porque não quer ficar em dívida com os parlamentares. Ou seja, quando o projeto não vem do jeito que ela pediu, ela veta, edita uma nova MP e ponto. Quem não estiver satisfeito que trate de derrubar a nova MP ou o veto, o que é mais difícil.
Ontem, ao ver o bilhete fotografado durante a reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), líderes ficaram ainda mais desconfiados. No manuscrito que deixou à mostra, Dilma pergunta às ministras do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, por que os jornais falavam sobre o acordo no Código Florestal se ela, a chefe, não tinha sido informada a respeito.
Foi o suficiente para deixar o meio político pra lá de desconfiado. Ali, eles tiveram a certeza de que Dilma lê os jornais e as declarações — muitas vezes indelicadas — que os aliados fazem a nós, jornalistas. Por isso, alguns consideram que é hora de ter mais cuidado com o que se diz.
Declarações à parte, muitos ficaram com a pulga atrás da orelha. O principal motivo é que, na visão dos parlamentares, seria inconcebível as ministras fecharem um acordo com senadores e deputados sem o aval da presidente — ainda mais em se tratando de alguém com estilo centralizador. Dito isso, das duas uma: ou os ministros nem sempre informam a chefe sobre o que ocorre no Congresso, conclusão mais óbvia; ou Dilma deixou o bilhete à vista para justificar futuros vetos à MP do Código aprovada na quarta-feira pela comissão que analisou a proposta do governo.
Deputados e senadores acreditam mais na segunda hipótese. Afinal, Dilma de boba não tem nada e alguns episódios são considerados marcantes. Um deles foi o caso da Empresa de Planejamento e Logística (EPL). Em reunião, Dilma descartou a criação da empresa. Em seguida, chamou Bernardo Figueiredo e disse que a empresa seria criada, mas pediu segredo. Desde que esse detalhe veio a público, há quem considere que ela é inteligente bastante para deixar o bilhete à mostra de forma a armar o cenário para vetos ao Código Florestal. Assim, ela faz o que quer, não briga com a base aliada e deixa tudo na conta das ministras. Para muitos parlamentares, ela tem se mostrado melhor nessas artimanhas da política do que possam supor os mais espertos nessa seara.
Por falar em cenário...
PSDB e PT ficaram preocupados com o resultado das últimas pesquisas em São Paulo. Os tucanos só enxergam uma forma de José Serra estancar a sangria: convencer os paulistanos de que realmente desistiu do projeto presidencial ou mesmo do governo do estado. Até agora, há quem diga que ele ainda não fez isso com todas as letras e, se não o fizer, o segundo turno é pra lá de incerto. Afinal, esta eleição é a mais difícil para Serra e a única que ele não pode perder se quiser continuar no protagonismo da política.
No caso dos petistas, o que mais incomodou foi o índice de rejeição a Fernando Haddad, que subiu seis pontos no Datafolha. Sinal de que a vinculação do nome do ex-ministro da Educação com o partido, ao mesmo tempo em que agrega mais eleitores, afasta outros em proporções que merecem uma análise cuidadosa. Até porque, São Paulo foi o que sobrou para os petistas em termos de possibilidade expressiva de vitória. Mas essa é outra história.
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