Valor Econômico - 08/06
As últimas semanas foram uma verdadeira montanha-russa no mercado de câmbio. A forte oscilação pôs em xeque o entusiasmo com que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defende um dólar a R$ 2,00 para aumentar a competitividade dos produtos brasileiros e melhorar as exportações.
O dólar pareceu ter ultrapassado os limites ao atingir R$ 2,10 na penúltima semana de maio e R$ 2,06 terça-feira passada. No primeiro período, oscilou 5,5% em relação à mínima; e, nesta semana, já arrancava 3,5%. Tamanha variação acaba atrapalhando o comércio exterior porque retrai compradores e vendedores, mesmo que o dólar esteja acima de R$ 2,00. Para o exportador, pior do que um dólar desvalorizado é uma cotação volátil.
Embora o Banco Central (BC) rejeite com veemência a ideia de que defende determinado patamar para o dólar, não foi o que deixou transparecer quando agiu agressivamente no mercado, como há muito tempo não se via, assim que a cotação da moeda americana ameaçou desgarrar muito dos R$ 2,00. Foram seis dias seguidos de leilões de swap cambial na penúltima semana de maio, e nova carga nesta semana. Essa operação equivale, na prática, à venda de dólar no mercado futuro e não era realizada há quase sete meses. O Banco Central ofereceu um total de US$ 14 bilhões em swaps cambiais e acabou vendendo metade disso.
O Valor apurou que o Banco Central decidiu, desde o fim de abril, seguir uma cesta de moedas denominada dólar index para ajustar a cotação do real. Por esse critério, o real estaria alinhado com o movimento do mercado internacional, com uma desvalorização de 5,5% desde então, enquanto o dólar index variou 5,1%. Outras moedas tiveram desvalorização maior. Em apresentação na terça-feira ao Congresso, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, minimizou a desvalorização de 5,7% do real frente ao dólar em maio, lembrando que outras moedas até perderam mais. O peso mexicano, exemplificou, caiu 9,5%; e o rublo, 11,7%.
De fato, a escalada do dólar não ocorreu apenas em relação ao real e teve como um dos motivos o recrudescimento da crise na zona do euro e a busca de refúgio seguro pelos investidores internacionais. A redução do juro básico, agora a 8,5%, com ganho real ao redor de 3%, também contribuiu para estimular a saída de capital. Além disso, no início do ano, o governo adotou medidas para conter a entrada de capital especulativo. Foi ampliado o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) dos empréstimos com menos de cinco anos, por exemplo, e penalizadas as posições vendidas no mercado de derivativos.
Não se pode falar em fuga de capitais, mas houve uma grande saída de dólares do mercado brasileiro em maio pelo câmbio financeiro, de US$ 6,3 bilhões, a maior desde novembro de 2008, auge da crise financeira, quando deixaram o país US$ 10,298 bilhões. Para piorar, a oscilação do dólar acelerou as importações e pôs na retranca os exportadores. Assim, o resultado comercial diminuiu para US$ 3,6 bilhões. As reservas internacionais diminuíram de US$ 374,3 bilhões em abril para US$ 372,4 bilhões no fim de maio.
Outros números mostram a mudança do humor do investidor internacional. A oferta internacional de crédito para as empresas brasileiras diminuiu. A taxa de rolagem da dívida de médio e longo prazo caiu de 154% para 84%. A alta do dólar também já afeta as despesas dos brasileiros no exterior. Até 22 de maio, os turistas gastaram US$ 1,24 bilhão, ou US$ 56 milhões por dia, 7% menos do que em abril.
Diante disso, o Banco Central projeta a redução da entrada de investimento estrangeiro direto em maio de 36% em comparação com abril, e de 24% em relação a maio de 2011, para US$ 3 bilhões, valor que, se confirmado, será o menor desde maio de 2011. O Banco Central não está preocupado com isso, disse o diretor da instituição ao divulgar as contas externas de abril. Os números estariam "em linha" com as projeções feitas para o ano, que preveem ingresso de US$ 50 bilhões, inferior aos US$ 66 bilhões de 2011.
Até abril, os investimentos estrangeiros diretos de US$ 19,6 bilhões financiariam totalmente o déficit em conta corrente acumulado em US$ 17,5 bilhões. Mas a situação deve mudar nos próximos meses, espera o próprio BC, com o déficit em transações correntes totalizando US$ 68 bilhões no ano, acima, portanto, dos US$ 50 bilhões esperados para os investimentos estrangeiros diretos. Apesar da aparente tranquilidade do governo, a turbulência internacional impõe um novo olhar sobre as contas externas.
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