FOLHA DE SP - 08/06
BRASÍLIA - Se Lula pretendia mesmo adiar o julgamento do mensalão, pode ter conseguido exatamente o oposto depois do vazamento de seu, digamos, curioso encontro com o ministro Gilmar Mendes.
Tomado em brios, o Supremo decidiu por unanimidade iniciar o julgamento em 1º de agosto e, assim, dar uma prensa no revisor Ricardo Lewandowski, que está sentado em cima do processo há meses. Queira ou não, vai ter de apresentar seu parecer até o fim deste mês.
Derrota de Lula e do PT, pois confirmou-se a pior previsão para o partido: a coincidência do julgamento do maior escândalo do governo Lula com a campanha eleitoral.
Será um longo processo, com 38 réus, voto do relator, voto do revisor e 11 juízes -se Dias Toffoli não se considerar impedido. E tem data para começar, não para terminar. Esse não é um detalhe e tem imensas implicações práticas e políticas.
Uma delas é que dois ministros, o atual e o ex-presidente, Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso, têm tempo de validade. Um completa a idade-limite de permanência no tribunal, 70 anos, em novembro. O outro, já no início de setembro. Ninguém acha que seria conveniente julgar um caso dessa magnitude, num complexo ambiente político, com dois novatos na corte.
A outra é o possível impacto das acusações e dos votos do STF nos resultados das eleições. Imagine a situação: as mesmas TVs que vão mostrar Lula fazendo campanha e os candidatos do PT vendendo seu peixe no horário eleitoral vão, simultaneamente, transmitir as longas acusações no STF contra a cúpula histórica do partido, José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares...
Sem contar que eles correm o sério risco de serem traumaticamente condenados às vésperas da eleição.
Ou seja: o julgamento tem de ser agora, mas parece injusto com um dos mais importantes partidos do país que seja justamente agora.
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