sexta-feira, junho 08, 2012

Bola de cristal - RODOLFO LANDIM


FOLHA DE SP - 08/06

O preço é influenciado pelas expectativas em relação ao equilíbrio entre oferta e demanda

O petróleo tem sido por várias décadas uma fonte de energia vital para o mundo e, ao que tudo indica, continuará sendo por outras tantas, mesmo nas previsões mais otimistas sobre o crescimento do uso de fontes alternativas.

Assim sendo, muitos países, sejam importadores ou exportadores, sofrem grandes impactos com as variações de preço desse produto.

Nas últimas semanas, vimos o preço do petróleo cair significativamente, fazendo com que o barril do tipo Brent, que alcançou US$ 123 em março, atingisse o patamar de US$ 100.

A princípio, isso seria algo de estranhar, uma vez que a própria Petrobras externava sua preocupação de que o preço da gasolina poderia ter de ser elevado com a permanência dos altos preços do petróleo no mercado internacional.

Aliás, essa era a aposta da maioria dos analistas do setor. Mas por que então ocorreu essa mudança tão repentina? Não seria possível prever o comportamento dos preços com maior acuidade?

Como acontece com qualquer commodity, o preço do petróleo é influenciado pelas expectativas dos mercados em relação ao equilíbrio entre oferta e demanda do produto.

A princípio, o seu preço deveria estar diretamente associado ao nível de atividade econômica mundial, mas o processo é mais complexo, notadamente quando analisamos um curto espaço de tempo, devido aos inúmeros fatores que influenciam seu comportamento, alguns deles impossíveis de prever.

Os eventos climáticos são um bom exemplo. É comum ver longos períodos de inverno rigoroso no hemisfério Norte intensificando o consumo para aquecimento ou mesmo a ocorrência de furacões obrigando a paralisação da produção no golfo do México por um longo período, afetando a oferta e fazendo os preços subirem.

Outros tipos de problema nem sempre previsíveis também podem trazer grande impacto aos preços.

Dentre eles estão guerras em países produtores e acidentes em plataformas ou em oleodutos. Ainda no lado da restrição da oferta estão os embargos comerciais à compra de produtos de países, inclusive como está previsto na União Europeia, a partir de 1º de julho, com o petróleo produzido pelo Irã.

Também são variáveis importantes as decisões de corte na produção estabelecidas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), responsável por mais de 40% da produção mundial, e os níveis de capacidade de produção ociosa dos países-membros, que dão ao mercado a dimensão do quanto uma eventual restrição de oferta pode ter seu efeito reduzido.

Some-se o fato de que o petróleo é precificado em dólares americanos e, quando este se valoriza em relação a outras moedas, o preço do petróleo tende a cair -e vice-versa.

Tudo ainda agravado pelo fato de que o mercado financeiro comercializa cerca de seis a sete vezes o volume de petróleo produzido no mundo em operações de proteção de preços, de refúgio em crises financeiras ou simplesmente especulativas.

Se, em curto prazo, a volatilidade tende a ser grande pelos fatores mencionados, entre outros, a longo prazo as tendências poderiam pelo menos ser mais claras. Mas, se por um lado as novas tecnologias abrem as portas para a exploração de novas jazidas ou até mesmo a maior recuperação de petróleo das antigas e existem ganhos de eficiência energética que levam a menores demandas do produto, por outro existe o declínio natural dos campos, que tornam a tarefa de elevação da produção mundial bastante difícil.

E, mesmo com o declínio do consumo observado nos países desenvolvidos nos últimos anos, o aumento nos demais tem levado ao crescimento da demanda mundial.

Assim, existem dois grandes grupos de cenaristas com visões opostas. Aqueles que acreditam que os preços do petróleo podem cair ao longo dos anos e outros que têm a convicção de que os preços subirão.

Dada a minha incapacidade de prever o comportamento de todos esses fatores, minha bola de cristal preferiu ficar com aqueles que acreditam em preços médios levemente crescentes no longo prazo, porém sempre sujeitos a grande volatilidade no curto.

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