FOLHA DE SP - 08/05/12
Mera impressão, na verdade, pois as finanças públicas de Espanha e Grécia, para citar apenas dois casos mais notórios, estão indo à breca. A crise europeia foi anestesiada pelo trilhão de euros que o Banco Central Europeuemprestou aos bancos da eurozona, a juros de pai para filho -o BCE doou dinheiro.
No entanto, as revisões do novo pacto de estabilidade europeu (corte de gastos, basicamente) e do acordo da dívida grega podem acabar com o resto de impressão de "mínima ordem" que a eurozona passava nas últimas semanas. Sem que, no entanto, se encontre solução alternativa para a eurozona.
Os socialistas franceses querem relaxar o pacto de março, que obriga os governos europeus a reduzir deficit a 3% do PIB até 2013 (que era o teto previsto na criação da união monetária, faz 20 anos).
Além do mais, sugerem que a União Europeia use seus fundos para estimular investimentos. De leve, ainda insinuam que gostariam de criar eurobônus (títulos de dívida, empréstimos), que levantariam dinheiro em nome da União Europeia a fim de tapar rombos e para outras finalidades "desenvolvimentistas".
A centro-direitista Angela Merkel não quer ouvir falar nem de relaxamento do pacto fiscal, que dirá do resto: fazer a Alemanha fiadora de fundos e empréstimos para a vizinhança "gastadora". Merkel terá uma eleição difícil em 2013, e a ideia de que a Alemanha deva "bancar" países "perdulários e ineficientes" é muito impopular.
Na pequena Grécia, todos os partidos do centro à esquerda querem rever o acordo da dívida. Não haverá governo grego que não seja composto majoritariamente pela esquerda. Logo, o caldo vai voltar a entornar pela Grécia. A não ser que não se forme governo algum e venham novas eleições, com resultados muito diferentes. Difícil que seja assim.
A Grécia está entrando em depressão e o governo em breve não terá dinheiro nem para pagar despesas cotidianas -o que entra no caixa, cada vez menos, sai em primeiro lugar para os credores.
Que bicho vai dar?
Mario Monti, o premiê que substituiu Berlusconi na Itália, tido como sátrapa da eurotecnocracia, mas um sujeito razoável, tem dito que arrocho apenas não vai resolver a crise. Monti, de resto, está sentindo a chapa esquentar na Itália. Mas o governo de centro-direita britânico, por exemplo, defende o arrocho, mesmo com o prestígio em ruína.
A vitória dos socialistas animou, porém, o governo de centro-direita espanhol, ainda novinho e muito impopular, além de estar com uma crise bancária quente nas mãos. O terceiro maior banco do país está bichado e terá de ser capitalizado pelo governo, que, porém, está na pindaíba e pode não cumprir as metas fiscais que prometeu à Europa (à Alemanha). De mansinho, a centro-direita espanhola espera que os socialistas franceses arranquem alguma coisa de Angela Merkel.
Mas "alguma coisa" seria o bastante para inverter o ciclo recessivo? Quanto a Alemanha vai ceder? O BCE vai dar apoio a "políticas de crescimento" (por vias indiretas, "acalmando mercados" com compra de títulos de governos)? Sozinha, a França não faz um verão.
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