O veto de Dilma Rousseff ao Código Florestal será a senha para que ela seja ovacionada pelos ambientalistas na Rio+20. Lá, pelo visto, o único constrangimento, se nada mudar, poderá vir da parte do governador Sérgio Cabral
Tudo indica que a presidente Dilma Rousseff conseguirá pular mais um obstáculo que parte da sua própria base aliada tentou colocar na sua frente. Ao se preparar para anunciar uma penca de vetos no Código Florestal aprovado na Câmara, ela começa a produzir uma doce limonada para substituir o limão azedo que a esperava na Rio+20, isso para não dizer o troféu motosserra de ouro — o mesmo que o senador Blairo Maggi havia recebido dos ambientalistas quando era governador do Mato Grosso.
Grupos de ambientalistas pretendiam entregar o troféu à presidente brasileira na Conferência de Desenvolvimento Sustentável da ONU, no Rio de Janeiro, mesmo se a Câmara ficasse com o projeto do Senado — fruto de acordo entre ruralistas e ambientalistas com assento naquela casa. E essa proposta Dilma teria que sancionar praticamente sem vetos — talvez houvesse algum por conta de uma vírgula mal colocada, mas não seria nada que comprometesse o corpo da proposta. Estaria assim presa na armadilha das vaias e manifestações contrárias a ela na conferência de junho. Agora, não está mais.
O veto de Dilma ao Código Florestal será a senha para que ela seja ovacionada pelos ambientalistas. Assim, o que era para ser negativo será positivo. E, para completar, ela ainda terá ali a companhia do presidente eleito da França, François Hollande, que toma posse no próximo dia 15. Ou seja, pelo andar da carruagem, o único constrangimento que Dilma terá na Rio+20 pode ser mesmo a companhia de Sérgio Cabral. Isso, se até ele não conseguir explicar suas viagens ao exterior nos últimos quatro anos.
Por falar em CPI…
Na época da Rio 92, a CPI sobre o esquema PC-Collor estava apenas começando. O presidente ainda detinha o controle da situação e pôde fazer bonito perante os demais chefes de estado. Dilma Rousseff, pelo menos até onde a vista alcança, parece não ter o que temer em relação à CPI. Não se sabe se o mesmo ocorrerá com o governador do Rio, Sérgio Cabral, que até o momento não deu um chega pra lá nas especulações sobre suas despesas no exterior em companhia de Fernando Cavendish, o ex-dono da Delta Engenharia.
Cabral ainda tem um mês e meio antes da Rio +20. Basta demonstrar que pagou suas despesas e ponto. Não se fala mais nisso. Se fizer isso, será feliz igual Henrique Hargreaves, que, citado na CPI dos Anões, voltou mais forte para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil no governo Itamar Franco e virou exemplo de boa conduta. Por enquanto, a sala “inviolável” da CPI ainda não recebeu os documentos relativos à Delta Engenharia, muito menos sobre as obras da empresa no Rio. Mas é só questão de tempo até que esse material seja requisitado.
Por falar em felicidade…
A eleição de François Hollande foi vista com muita simpatia no Palácio do Planalto. Ali, houve quem comparasse a vitória dele à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, que chegou ao poder prometendo mudanças radicais. Ocorre que Lula não mudou à época as bases da política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. E não se sabe hoje se Hollande terá esse poder na França, embora o país seja hoje a quinta economia do mundo. Os franceses, entretanto, estão atrelados ao Tratado Europeu, que prevê austeridade e amarra certas decisões.
Da mesma forma, as preocupações com o futuro do Real representaram um freio no projeto que Lula apresentara em sua campanha. No Brasil, o crescimento foi retomado aos poucos, graças a um bom cenário internacional no início do governo Lula e à capacidade de preservar várias ações do governo anterior. O que o governo brasileiro espera de Hollande é que ele tenha o mesma sorte para poder servir de inspiração a outros países europeus. O desafio está lançado.
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