sexta-feira, maio 04, 2012

O poder na mão - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 04/05/12


Na Grécia antiga - aquele pedacinho de terra lá nos cafundós do Mediterrâneo - nasceu o sistema político que viria a ser considerado o mais adequado para tomar conta das nações bem- intencionadas que apostarem na tal de democracia. Não é uma aposta impossível; não se pode negar que nas regiões mais prósperas do planeta a democracia é, digamos assim, uma campeã de popularidade. Quem tem, não quer largar, quem não tem, sonha com ela - a não ser nos lamentáveis casos em que a demagogia, a força e a pura malandragem conseguem manter no poder regimes chamados como "de exceção". O que é uma forma delicada de definir a imposição da vontade de poucos sobre os direitos e as necessidades de muitos.
Às vezes, dá certo. Quase sempre - pelo menos em regimes democráticos que se mantêm vigilantes para não deixar de sê-lo - os muito espertos dão com os burros na água, como se dizia antigamente. No momento, foi o que aconteceu com recente projeto político - lá nas vizinhanças de Brasília - de um grupo comandado pelo próspero bicheiro (o adjetivo é quase desnecessário: quem já ouviu falar em bicheiro remediado?) Carlinhos Cachoeira.
Como sabido, a cachoeira secou - pelo menos por algum tempo. Mas é bom não esquecê-la. O projeto de Cachoeira, documentado em gravações de telefonema, era eleger prefeito de Goiânia o senador Demóstenes Torres (que saiu do DEM e ainda não encontrou legenda com cara de pau suficiente para aceitá-lo). Foi uma vitória significativa para os políticos de ficha limpa. O que fica bem claro com uma frase de um vereador aliado dos espertalhões: "Nós temos que ter alguém com o poder na mão." Dizem que em alguns países escandinavos dizer uma coisa dessas já dá cadeia.
Considerando-se, com algum otimismo, que Goiânia ganhou, com estas revelações, pelo menos uma chance razoável de eleger um prefeito razoavelmente honesto, podemos esperar que a turma do "poder na mão" entre em recesso por algum tempo. É uma pequena vitória para os homens honestos do Brasil Central. Quem sabe, temos o direito de sonhar com outras. Razões para isso não faltam.

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