sexta-feira, maio 04, 2012

Dilma, a mãe das mães - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 04/05/12

Se Dilma conseguir fazer com que a população entenda ser necessário mexer na remuneração da poupança para baixar ainda mais os juros, inclusive os do cartão de crédito, não restará aos partidos aliados outra saída senão obedecer à chefe



Parece incrível, mas os políticos ainda conseguem ficar boquiabertos com algumas reações da presidente Dilma Rousseff. Ontem, foi um desses dias. Ao reunir o conselho político, ela colocou os objetivos com os quais pretende marcar seu governo e falou dos nós que pretende desatar no país. Reclamou das “tarifas estarrecedoras dos bancos”, dizendo que “isso é roubo”. Disse ainda que a taxa do cheque especial “é uma vergonha”, bem como as taxas dos cartões de crédito. Falou ainda sobre as mudanças da poupança — a reunião era para isso. O que não estava no script eram as “broncas”.

Para aliviar o olhar meio desconfiado da turma da base aliada com as mudanças na remuneração da caderneta de poupança, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, arriscou falar sobre projetos da presidente: “Mas, para compensar, vem aí o novo combate à miséria e…”. A reação foi imediata: “Para, Arlindo! Não fala! É segredo ainda, não está fechado! Vou lançar no Dia das Mães. Não é para falar agora!”

O líder recolheu os flaps. A partir daí, ninguém mais colocou senões às mudanças na remuneração da poupança, à exceção de Francisco Dornelles, ex-ministro da Fazenda, que disse que era preciso ir com cuidado nessa seara. Renan Calheiros concordou com tudo. Henrique Eduardo Alves não abriu a boca a reunião inteira. E assim, o Conselho, sempre falante no governo Lula, entrou mudo e saiu calado. Mais por medo de levar um passa fora público do que por qualquer outro motivo.

Por falar em medo…A sensação entre os políticos é a de que discordar da presidente da República ou contrariá-la em público soa sempre como o detonador de uma bomba. Como crianças que se intrometem nas conversas dos adultos, os líderes levam logo um passa fora. A impressão que eles têm é a de que se trata daquela mãezona que se impõe mais pelo medo do que pelo diálogo direto com os filhos.

Até aqui, eles não têm sequer argumentos para discordar dela em público. Até porque a popularidade presidencial está lá em cima. A forma como Dilma enquadra e deixa sem ação as experientes raposas da política rende a ela e a seu governo pontos que se superam a cada pesquisa de opinião. E ela está surfando na onda de enquadrar quem lhe passa pela frente. Ontem, por exemplo, saíram os políticos, entraram os banqueiros, prontos para ouvir: “No que se refere às taxas que vocês cobram dos correntistas, está na hora de baixá-las”.

Por falar em sensações…
Os líderes voltaram ao Congresso meio cabisbaixos. Sabem que, se Dilma conseguir fazer com que a população entenda que precisa mexer na remuneração da poupança para baixar os juros, não restará a esses partidos outra saída, senão obedecer. Afinal, com a popularidade que ela tem, Dilma está com a bola toda. E, se ela conseguir somar à queda dos juros uma baixa nas taxas cobradas pelos bancos a seus clientes, certamente, as mudanças na caderneta de poupança não vão afetar a relação dela com o eleitorado.

No momento, ela só está desgostando mesmo a classe política. O PT inclusive. Os petistas ficaram furiosos na semana passada ao saber que o nome escolhido para diretor de Engenharia da Petrobras foi Richard Olms, técnico da preferência da Graça Foster, e que não passou pela aprovação do partido. O PP também não gostou de perder a Diretoria de Abastecimento da estatal. Ontem, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, falou que falta mudar dois diretores, Almir Barbassa, da área financeira, e Jorge Zelada, da área internacional. Zelada ficará mais um mês. Barbassa esteve com um pé fora da diretoria, mas Lula intercedeu em seu favor.

Até o ex-presidente acha que Dilma está criando frentes demais. O problema é que, ao abrir tantas frentes com os políticos, Dilma corre o risco de, se escorregar numa casca de banana qualquer, não ter um líder para lhe estender a mão. Sobrará então o povo. Não por acaso, vem aí mais um novo programa de combate à miséria voltado às mães. É com a ajuda delas e de seus filhos que Dilma tem colocado os “meninos da política” de castigo. Até agora, deu certo. Não por acaso, tem entre eles o apelido de “mãe das mães” ou “dona da pensão”.

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