FOHA DE SP - 08/04/12
BRASÍLIA - A beligerância verbal e as idiossincrasias entre o Brasil e os EUA esfriaram muito de Lula para Dilma. E os interesses continuam.
O Itamaraty está mais tímido, e Dilma não é tão bom produto de política externa quanto Lula era, mas ela também é altamente popular, tem o trunfo real de ser a primeira presidente brasileira mulher e é quem, de fato, dá a linha da diplomacia brasileira -para os EUA, "uma diplomacia de valores, não só de interesses".
É possível acrescentar: sem uma busca frenética por lideranças que ou são naturais, como na América do Sul, ou prematuras, como nas negociações de paz no Oriente Médio.
Poucas pautas de Dilma são tão ricas e importantes como a que ela leva para Washington. Há desde o "Ciência sem Fronteiras" (intercâmbio de estudantes que os dois lados enaltecem) até inúmeros entreveros comerciais, o foco em energia e as espinhosas questões de Síria e Irã. Os EUA insistem na tática de torniquetes financeiros, econômicos e comerciais, enquanto o Brasil contra-argumenta que isso só piora as coisas.
No caso da Síria, o Brasil tenta se equilibrar entre os EUA e a Rússia e a China -parceiros nos Brics que dão suporte ao regime assassino de Assad-, mas o embaixador Thomas Shannon (EUA) minimiza: "Brasil e EUA pensam quase igual, o vocabulário é que é diferente". (Cá para nós, vocabulário é tudo em diplomacia...)
Mas a questão mais delicada nem é Síria, é Irã. O Brasil teme que a política de sanções chegue a um resultado oposto, empurrando os aiatolás para a guerra. Já os EUA pressionam o Irã para evitar, por tabela, que Israel vá às armas. A ação do Ocidente seguraria os ânimos dos israelenses.
Portanto, o lado mais visível da visita de Dilma aos EUA será a economia, mas o que vai valer mais não será o dito em público, mas o não dito. Ou melhor, o dito entre Dilma e Obama, a portas fechadas, sobre os sólidos interesses bilaterais e as escorregadias questões internacionais.
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