O Estado de S.Paulo - 08/04/12
O senador Pedro Simon ressalva que tem receio de confundir sua posição pessoal com a análise fria da situação, mas na percepção dele desta vez o Senado não tem outra saída.
Ou põe para funcionar o Conselho de Ética e dá prosseguimento ao processo de cassação de Demóstenes Torres por quebra de decoro ou estará irremediavelmente em rota de colisão com a sociedade.
Diferentemente de outras ocasiões em que mandatos aparentemente condenados foram salvos pela força do compadrio, agora não há recuo possível.
"A opinião pública está mobilizada, manifesta-se por todos os meios e não há como ignorar essa pressão", diz ele, cuja avaliação é compartilhada por outros políticos.
Simon faz uma comparação com o clima que levou à aprovação da Lei da Ficha Limpa. Se dependesse só da vontade dos partidos e dos políticos, estaria até hoje em alguma gaveta da Mesa Diretora ou das comissões. Mas, quando a sociedade pôs a faca no peito do Parlamento, não houve jeito.
"Vivemos, nesse caso, algo semelhante: a completa impossibilidade de tomar outra atitude a não ser seguir adiante porque o Congresso deve isso a si", diz, lembrando que a alta popularidade da presidente Dilma Rousseff deve-se em boa medida à imagem que passa de intransigência em relação aos políticos e à falta de ética na política.
Nesse cenário, o Senado agiria agora menos por deferência à preservação do decoro e mais por uma questão de autodefesa diante da pressão da sociedade e da contraposição estabelecida entre o que é percebido como austeridade da presidente e o que é creditado como licenciosidade do Congresso.
Pela beirada. A demora na nomeação dos integrantes da Comissão da Verdade é atribuída à necessidade de adoção de critério cirúrgico na escolha dos nomes. É um dado, mas não o único e, nessa altura, nem o principal. O atraso parece obedecer a um roteiro estratégico a fim de dar tempo ao tempo na dissipação das reações entre os militares.
A formação de uma comissão da verdade "paralela" na Câmara e as propostas de criação de colegiados semelhantes em diversos Estados ajudaria no processo de tornar o levantamento de informações sobre agressões aos direitos humanos durante a ditadura um fato natural e, sobretudo, consumado.
Pássaros na mão. Loucos pela vaga de vice na chapa de José Serra para a Prefeitura de São Paulo, o PSD e o DEM oficialmente dizem que não farão exigências ao PSDB.
Na prática pressionam pesado, cada qual com seus argumentos. O PSD invoca a afinidade com os tucanos, a fidelidade de Gilberto Kassab a Serra e a preferência do candidato pelo nome do ex-secretário municipal de Educação, até o ano passado filiado ao PSDB, Alexandre Schneider.
O DEM fala da possibilidade de apoiar Gabriel Chalita, do PMDB, recorre à proximidade com o governador Geraldo Alckmin e alega que seu tempo de televisão (1min40s) pode fazer diferença.
Se o PSD não ganhar na Justiça direito a espaço próprio no horário eleitoral, o partido será um peso para a coalizão, pois os tucanos teriam de dividir o tempo com os candidatos a vereador de Kassab.
Soma zero. São cinco, dos 23 com representação na Câmara, os partidos - PSDB, PT, PTB, PPS e PP - até agora com deputados de alguma maneira envolvidos com a arte de fazer negócios e influenciar pessoas do sistema Cachoeira.
Da totalidade das legendas, só o PMDB, o PC do B, o PDT, o PSD e o PSB têm peso entre as que estão por ora fora da cena. Ainda assim compartilham interesses eleitorais e legislativos com os implicados.
Os 13 partidos restantes são residuais e/ou satélites dos médios e grandes. Se nenhum deles decidir jogar os seus ao mar, é só fazer a conta para concluir que uma CPI pode até ser instalada, mas não prospera.
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