REVISTA VEJA
Mas, ao mesmo tempo, é quase desanimador constatar que resistem teimosa e burramente alguns dos antigos entraves que tanto atrapalharam o desenvolvimento de nossos processos produtivos no passado. Os números mostram que o Brasil ainda é um tijolo voador, expressão consagrada entre os economistas para descrever uma economia que, a despeito de um desenho tosco e disfuncional, persevera na sua caminhada para a frente em razão de rara combinação de circunstâncias favoráveis. No caso específico do Brasil, o tijolo voa impulsionado pela valorização internacional dos produtos de exportação, em especial o minério de ferro, a soja e a carne, dádivas da natureza que o engenho pátrio soube transformar em riqueza, mas que denotam uma indesejável dependência da demanda externa por alguns poucos itens primários. Voa pela atração de investimentos produtivos estrangeiros, que bateram em 65 bilhões de dólares no ano passado, parte disso glória da nossa conquista da estabilidade, parte consequência do tropeço das economias avançadas. Enfim, a economia brasileira mantém-se no ar menos por suas virtudes aerodinâmicas e mais pelo superavitário front externo, que produziu um saldo de 30 bilhões de dólares em 2011.
Nossas distorções paralisantes continuam na legislação tributária selvagem; nos desperdícios do setor público, que gasta muito, gasta mal e quando faz cortes economiza em investimentos sem diminuir o tamanho da máquina burocrática; na legislação trabalhista, que engessa e encarece a criação de empregos; e na educação universalizada, mas ainda de péssimo nível. Essas mazelas precisam ser fortemente atacadas em 2012, para que o Brasil possa crescer em um ritmo que permita dobrar a renda per capita em pouco mais de uma década. Isso significa crescer cerca de 6% ao ano, consistentemente, nesse período, para podermos nos sentar ao lado de Portugal e da Coreia do Sul no último vagão do comboio dos países com alta qualidade de vida. Para tanto, temos de deixar de ser um tijolo voador e adquirir os contornos leves, eficientes e modernos das economias sustentáveis e dinâmicas.
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