Salários e inflação o desafio de Dilma
JOSÉ MILTON DALLARI
O ESTADÃO - 05/11/11
E,em 2012,o salário mínimo de R$ 545 passará para R$ 616, um reajuste de 14%.Se este ano a inflação já ameaça estourar o teto da meta,segundo previsão de analistas de mercado, no ano que vem o cenário pode se complicar ainda mais.
A estimativa dos economistas é de que o governo tenha muitas dificuldades para trazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta, fixadaem4,5%.
A pergunta que o trabalhador se faz é a seguinte: Quando os salários têm ganho real, o resultado é sempre inflação? Em alguns casos, sim. Isso acontece quando o consumo cresce sem que a economia amplie sua capacidade de oferta. Se todo mundo quer comprar automóveis e não há produção suficiente para atender a esse desejo, a tendência é de que os preços aumentem. O Brasil já viveu um cenário como este.
Mas não é o que parece estar ocorrendo agora no País. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),o consumo das famílias, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), caiu entre 2009 e 2010, de 61,7% para 60,6%. Esses números sinalizam que o consumo das famílias tem ficado praticamente estável em relação ao crescimento da economia. Portanto, não vem da falta de produtos no mercado a pressão inflacionária.
Na teoria econômica, o salário mínimo tem de corresponder à "produtividade- padrão" do trabalho na economia.
No Brasil, por enquanto, os salários estão perdendo a corrida para o aumento da produtividade. Entre 1989 e 2008, a produtividade da indústria brasileira cresceu 84% e a média dos salários caiu 37 pontos. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revelam que o valor real do salário mínimo chegou ao ano 2000 reduzido a um quinto do que era em 1945. Se a teoria econômica também associa inflação a aumentos salariais acima da produtividade, como se vê, estamos longe disso.
É preciso ter em mente que há muitos outros fatores que causam inflação, não apenas o aumento real de salário.
No Brasil, os impostos e os juros incidem principalmente sobre o consumo.
Os impostos cobrados pelos governos federal( PIS,Cofins e outros),estaduais (ICMS, ITBI e outros) e municipais( IPTU, IPVA e outros),alguns diretos e outros indiretos, e os reflexos dos juros pagos aos bancos pelos títulos públicos emitidos pelos mesmos entes governamentais.
Esses custos da economia brasileira, que representam em média mais de 40%, são repassados diretamente aos preços, causam inflação e punem quem ganha menos.É um ciclo vicioso que há anos não encontra saída no País.
Há mais problemas. Setores da indústria impedem a concorrência e qualquer aumento de custos é repassado imediatamente para os preços. Oligopólios que dominam certos setores da produção nacional também aumentam o lucro via preços.O valor dos produtos é reajustado, mesmo que não haja aumento nos custos de produção.O objetivo é simplesmente aumentar o lucro. Há, ainda, o capítulo das tarifas públicas,boa parte reajustada por contratos indexados,que pressionam a inflação.
Portanto, atribuir o risco de um salto na inflação apenas ao aumento real dos salários e querer combatê-la sob esse ângulo é ineficiente.
Este é o desafio que se impõe ao governo da presidente Dilma Rousseff.
Como equacionar a questão do ganho real do salário no Brasil como controle da inflação e o crescimento sustentado da economia. Se nada for feito no médio prazo, corremos o risco de ficar no eterno dilema dos juros altos, salários baixos e crescimento econômico mediano.
José Milton Dallari: Sócio da Decisão Consultores,foi secretário de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda e Integrante da Equipe que implantou o Plano Real.
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