Há males que vêm para bem
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 20/10/11
BRASÍLIA - Como bem registra um arguto colega da Folha, Dilma faz o caminho inverso dos antecessores Fernando Henrique e Lula.
Ambos assumiram com um ministério até razoável, que foi degringolando a cada crise e a cada pressão -sobretudo do PMDB- e chegou ao fim com vários homens errados nos lugares errados nos dois governos. Dilma, ao contrário, já começou por onde eles terminaram, principalmente porque herdou e engoliu vários ministros encrencados e inacreditáveis feudos partidários.
Aos poucos, ela vai se livrando do entulho lulista, graças a investigações da PF e do Ministério Público que desaguam na imprensa. Tem boas chances de chegar ao final de seu mandato com um ministério melhor do que montou (ou encontrou).
O script de Dilma é conhecido, foi bem ensaiado na saída de Antonio Palocci da Casa Civil e encenado nas quedas de Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo). Com Orlando Silva (Esporte), ela já está à vontade no papel.
A primeira reação de Dilma é fazer uma declaração que é lida como apoio e defesa, mas é apenas formal e em cima do muro. Dá assim uma resposta à opinião pública, faz uma deferência com o ministro-alvo e ganha tempo até as coisas decantarem.
No fundo, Dilma lava as mãos e o ministro passa a ser senhor do seu destino: se tem defesa, ótimo; se não tem, que passe bem e boa sorte.
A grande jogada do início do governo, aliás, foi quando ela ganhou um bom pretexto para trocar Palocci por Gleisi e Ideli e se livrar da sombra de um "primeiro-ministro".
No governo Dilma, há uma presidente poderosa, não eminências pardas e feudos. Ela não empurra Orlando Silva para fora, mas não mexe uma palha para mantê-lo dentro, nem para o Esporte continuar aparelhado pelo démodé PC do B com a Copa e a Olimpíada bem aí. Há males que vêm para bem, certo?
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