Pactos de elegância
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 26/09/11
RIO DE JANEIRO - Em tempos idos, um sujeito que fosse visto de paletó e com as fraldas da camisa para fora da calça só podia estar fugindo de um prédio em chamas -ou da cama de uma mulher cujo marido cometeu a indelicadeza de chegar mais cedo.
Seja como for, quem terá sido o primeiro homem a violar o cânone segundo o qual, sob o paletó, a camisa devia ser embutida nas calças -e, com isso, firmou um novo pacto de elegância? Não sei. Mas deve ter começado naquele desfile anual de avantesmas: a cerimônia de entrega do Oscar, em Hollywood.
E quem foi o primeiro a combinar traje formal com tênis? Segundo algumas correntes filosóficas, foi Woody Allen, numa recepção em Nova York, nos anos 80. Já a autoria da barba por fazer talvez seja impossível de determinar. Só se sabe que, um belo dia, a pele lisa, fresca e cheirando a alfazema deixou de contar pontos -mais ainda depois que se inventou uma lâmina meio afiada, meio cega, que passava pelo rosto e o deixava exatamente como estava antes de o sujeito se barbear.
Oscar Wilde dizia que a moda é uma variação tão intolerável de horror que tem de ser mudada de seis em seis meses. Sabendo disso, escrevi em 1980 que, por mais condizente com os nossos verões, uma inevitável novidade na moda masculina seria o terno de calça curta. Errei porque, até hoje, nenhum estilista se atreveu. Ou então aconteceu, mas foi tão rápido que ninguém aderiu.
Mas como, nesse mercado, nada se perde e tudo se transforma, posso garantir que, não demora, em alguma reunião de uma grande empresa, ainda veremos um executivo de paletó e gravata, barba por fazer, camisa com as fraldas para fora, calça curta, meias sociais pretas e tênis, daqueles enormes, também pretos, de cano alto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário