Somos o futuro?
DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 26/09/2011
É preciso ter cuidado para que os gastos da Copa do Mundo e as obras em atraso não terminem por escoar uma gama de recursos valiosos, desviando-os da educação, a próxima chave que o Brasil precisa girar
Dilma Rousseff não gosta de falar com jornalistas a toda hora. Se puder, nem dá entrevistas. Tanto é assim que, só agora, nove meses depois da posse, concedeu sua primeira coletiva organizada. Como Lula e Fernando Henrique, ela também limitou o número de perguntas e, pelo fato de estar fora do país, os temas se restringiram aos assuntos relacionados à viagem aos Estados Unidos. Mas, sobre todos eles, discorreu com extrema segurança. A impressão que causou foi positiva, especialmente, ao demonstrar conhecimento sobre economia.
E, diante de um mundo meio perdido e em crise, ela não está errada ao dizer que "essa região do planeta" em especial, a América do Sul, é "apetitosa". Os países da região, que nunca tiveram maior destaque no cenário internacional, estão se levantando porque tiveram que criar soluções próprias de combate à pobreza.
No caso especifico do Brasil, pode-se afirmar que o Plano Real foi a largada. E engendrado por economistas brasileiros, muitos formados fora do país, mas com o embasamento cultural necessário para fazer com que as propostas técnicas funcionassem no Brasil. Depois, veio a consolidação dos programas sociais, obra do governo Lula, que permitiu mais avanços e também foi concebido por pessoas capacitadas. Tanto Fernando Henrique quanto Lula souberam escolher os especialistas que usaram conhecimentos obtidos no Brasil e no exterior e adaptaram à realidade brasileira. Nada disso foi, digamos... importado.
E, graças a esses programas, o Brasil conta, agora, com um mercado interno fortalecido. E se torna uma opção de fato para o futuro. Muitos brasileiros que migraram para países aparentemente mais promissores no passado começam a fazer o caminho de volta. Esse mercado interno, produtor e consumidor, é visto pelo governo como a chave para sair da crise, ou não entrar nela ao ponto de ficar encharcado.
Dentro e fora do governo, há a certeza de que parte da crise que os Estados Unidos vive hoje vem do fato de que, há alguns anos, suas grandes empresas transferiram sua capacidade produtiva para fora do país. Algumas fecharam unidades de produção inteiras em solo americano, gerando desemprego. Houve uma corrida para países como a China em busca de mais faturamento e menos custos. Esse mesmo fenômeno ocorreu na Europa.
Feito esse diagnóstico, o governo parte em busca das soluções. Há a certeza de que a educação — especificamente nas áreas técnicas e de inovação tecnológica — é o caminho para consolidar essa opção pelo Brasil, como a própria presidente Dilma tem dito em seus pronunciamentos ao longo dos últimos dias.
Ocorre que é preciso prestar atenção redobrada nos gastos, para que esses objetivos não se percam. Dentro do governo, há quem diga que é necessário ter cuidado para que os gastos da Copa do Mundo e das obras em atraso não terminem por escoar uma gama de recursos valiosos, desviando-os do que é realmente mais importante. Afinal, não são raras as vezes em que a turma do futebol recorre aos cofres públicos para honrar seus compromissos. Que o diga a população paulista, que hoje banca o Itaquerão em vez de aplicar o mesmo dinheiro em escolas técnicas, por exemplo.
Chegamos num ponto em que não dá para o Brasil simplesmente deixar de lado o comprometimento com a comunidade internacional, de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Agora, tem que fazer bem feito. Se o desafio de FHC foi o Plano Real e o de Lula, os programas sociais, o de Dilma é disseminar o conhecimento técnico e a excelência profissional. Se conseguir isso, muitos especialistas nos Estados Unidos não têm dúvidas de que será um futuro, como se diz no Brasil, de chutar para o gol e correr para o abraço.
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