Entrevista com ROMÁRIO
REVISTA ÉPOCA
"O povo tem o direito de saber o voto dos parlamentares”
REDAÇÃO ÉPOCA
QUEM É
Romário de Souza Faria, de 45 anos, está em seu primeiro mandato como deputado federal pelo PSB. Foi eleito com mais de 140 mil votos
O QUE FEZ
Conquistou a Copa do Mundo de 1994 e foi eleito o melhor jogador do mundo pela
Fifa. Segundo as contas do
ex-atacante, fez 1.003 gols na carreira
O QUE DEFENDE
Suas principais bandeiras são os direitos das pessoas com deficiência e a transparência nas obras da Copa de 2014
Romário é um estreante na política. mas a pouca experiência não o faz deixar de lado as declarações polêmicas que marcaram sua carreira no futebol – além dos gols (mais de 1.000, segundo seus cálculos). Mesmo na posição de deputado federal, diz que não leva desaforo para casa. "Se me desrespeitarem e me esculacharem, vão ter o troco", afirma em resposta a perguntas de leitores de ÉPOCA sobre o episódio em que xingou pelo Twitter quem o criticou por não se submeter ao bafômetro em blitz da Lei Seca. No Congresso, Romário (PSB) tem dedicado maior tempo à defesa dos direitos das pessoas com deficiência e à fiscalização das obras da Copa do Mundo. Não deixa de opinar, porém, sobre outros assuntos, como o voto secreto na Câmara.
Política
O que o motivou a entrar para a política?
Reginaldo Leite
Romário – Foi a minha filha Ivy (filha caçula de Romário, que tem Síndrome de Down). Nestes últimos sete anos da minha vida, passei a conhecer o mundo das pessoas com deficiência. Participei de algumas reuniões pela internet – com pais que têm as mesmas condições de vida que eu, financeiramente falando, e pais que passam muitas dificuldades para tentar dar a seus filhos o que posso dar à minha filha. Entendi que essas pessoas com deficiência e também essas famílias merecem um pouco mais de respeito e atenção, principalmente em relação ao preconceito que sofrem. E acredito que eu, pela pessoa que sou e pela imagem que construí, posso ajudar muito nessa luta e graças a Deus tenho conseguido.
Você votou a favor ou contra a cassação da deputada Jaqueline Roriz?
Erisson Deodato Lima, Brasília
Romário – A favor da cassação e todo mundo sabe disso. Declarei publicamente no meu site e nas minhas redes sociais.
Você apoiaria o fim do voto secreto na Câmara? E o fim do voto obrigatório?
Vanderson Aurelio Marques de Souza, Recife
Romário – As pessoas têm o direito de saber em quem e por que seus representantes votam. Porque nós aqui somos colocados pelo povo brasileiro. Então todos têm o direito de saber o que estamos fazendo e como estamos votando em cada coisa decidida nesta Casa. Não sou a favor do voto obrigatório. Eu acredito que nós vivemos em um país democrático, livre, e seria bem mais oportuno e interessante para o Brasil que vote aquele que acha que tem que votar.
O povo tem o direito de saber o voto dos parlamentares"
Romário
Romário, o que pode fazer de concreto no combate à corrupção no meio político?
Celso Moessa de Lima, Goiás
Romário – O que posso é exatamente o que tenho tentado fazer: mostrar, principalmente dentro das minhas áreas de atuação, aquelas coisas que acredito que possam ser melhoradas. E, com os documentos que eu tenho em mãos em relação às coisas que hoje eu vivo dentro da Câmara dos Deputados – Copa do Mundo, pessoas com deficiência, combate às drogas, crianças e jovens carentes –, mostrar com transparência tudo o que vem acontecendo no Brasil. E posso dizer de verdade que estou bastante feliz em relação a isso.
Comparando sua carreira de jogador com a de deputado federal, quais estão sendo as suas maiores dificuldades? A experiência vivida no futebol está contribuindo para vencer essas dificuldades na política?
Raney Martins de Almeida
Romário – Com certeza esses meus mais de 20 anos de futebol fizeram com que eu tivesse hoje uma experiência de vida muito interessante. É claro que a convivência dentro da política é uma situação diferente do futebol, mas eu tenho certeza que, apesar do pouco tempo de política e de conhecimento de política partidária, tenho aprendido a cada dia e atribuo isso também a esses meus 25 anos de futebol. Só que é preciso deixar bem claro que a minha responsabilidade no futebol como um ex-jogador era uma e hoje, como político e parlamentar, é totalmente diferente. Não que eu não tenha tido responsabilidades como jogador, mas hoje, como um parlamentar, tenho por obrigação de deputado federal fiscalizar, acompanhar, promover o bem da sociedade. Realmente tem sido uma experiência diferente, mas bem interessante. E estou muito feliz por isso. Minha maior dificuldade é exatamente poder entender algumas coisas, já que nunca fui uma pessoa que participou muito de política, nunca li sobre política. Mas como já coloquei, o tempo faz com que a gente vá aprendendo as coisas devagar.
O que você já fez pela causa de pessoas com deficiência no Congresso?
Marcelo Santos Vianna
Romário – O relator, deputado federal André Figueiredo, acatou duas emendas minhas na MP 529. Uma delas garante que a pessoa com deficiência contratada como aprendiz acumule salário e Benefício de Prestação Continuada (BPC) por até dois anos. O BPC tem valor de um salário mínimo e é concedido a idosos e pessoas com deficiência que não exercem atividade remunerada e têm renda familiar per capita de até um quarto de salário mínimo. Se o beneficiado for efetivado na empresa, o BPC será suspenso e não mais cancelado como ocorria até agora. Caso saia do trabalho, a pessoa poderá voltar a receber o benefício sem necessidade de nova perícia. A segunda emenda assegura que as pessoas com deficiência mental ou intelectual sejam consideradas dependentes de contribuinte para fins de recebimento de pensão por morte ou invalidez, independentemente da idade. A MP foi aprovada por unanimidade na Câmara e no Senado e já foi sancionada pela presidente Dilma. Já é lei (Lei nº 12.470, de 31 de agosto de 2011) e já está valendo.
Por que o deputado não apoia a causa da PEC 270/08 (sobre aposentadoria por invalidez)?
José Brun, Camboriu
Romário – Nunca disse que não apoio a PEC 270. Pelo contrário, acho mais do que justo que a pessoa possa receber integralmente seus proventos caso se aposente por invalidez permanente. Como tenho apenas sete meses de mandato, ainda estou conhecendo e estudando os projetos de lei que tramitam na Câmara desde antes de minha entrada e por isso ainda não me posicionei publicamente a respeito deste e de tantos outros que ainda estou analisando mais profundamente.
Quais são seus projetos para os atletas com necessidades especiais?
Edson Gilmar Dal Piaz Barbosa, Curitiba
Romário – A verdade é que existem muitos projetos que andam pela Casa em relação a isso. Eu tenho lido e tenho, junto com minha equipe, estudado aqueles que são os melhores, que têm mais prioridade, e dentro disso, vamos começar a brigar, no bom sentido, para que esses projetos definitivamente virem lei.
Copa do Mundo no Brasil
Como crítico das obras da Copa do Mundo, o que acha da concorrência sigilosa para essas obras?
Luiz Carlos Marques
Romário – Uma vergonha. Eu sou totalmente a favor de que as coisas sejam bem claras. Existem portais de transparência em alguns órgãos, onde deveriam estar todas as informações. Mas nada está colocado ali. É uma total falta de respeito com o povo brasileiro.
Por que você entrou na disputa por Brasília e não por São Paulo para sediar a abertura da Copa 2014?
Franciney, Belém
Romário – Não entrei na disputa nem por Brasília nem por São Paulo. Quando me perguntaram em relação à abertura da Copa, São Paulo naquele momento não tinha levantado nenhum tipo de tijolo. Já era inclusive pra a Fifa ter feito a escolha dessa sede – que foi adiada pelo problema de São Paulo. Por isso, digo e repito que acredito que São Paulo não terá condições de fazer um estádio para abertura da Copa do Mundo nesse pouco tempo que temos. Mas se realmente acontecer o que estão dizendo, que São Paulo estará totalmente pronta pra uma inauguração de uma Copa do Mundo, é claro que eu também entendo que a cidade pode vir a abrir a Copa. Em relação a Brasília, dentro do que eu vi, é o estádio que hoje poderia dizer que realmente teria condição de também ter a abertura de uma Copa do Mundo. Mas Brasília, fora o estádio, tem os seus problemas, principalmente com mobilidade urbana. Então, em se tratando de uma Copa do Mundo e, principalmente, de uma abertura, não adianta ter só o estádio, você tem que ter tudo. Ou seja, mobilidade urbana, estádio e aeroportos. Tudo deve estar realmente capacitado para receber turistas em um número bem maior do que em qualquer outro jogo. Então, hoje, se você me perguntar qual é a cidade que está totalmente preparada para receber a abertura da Copa do Mundo, eu direi que nenhuma.
Hoje nenhuma cidade está preparada para sediar a abertura da Copa"
Romário
Seus esforços para uma melhor condução das obras da Copa e da Olimpíada vêm alcançando os objetivos esperados?
Maria Terezinha Santellano, Porto Alegre, RS
Romário – Alguns, sim; infelizmente, outros, não. Sou um dos poucos que podem dizer que estão tentando lutar, não contra o sistema, mas para que as coisas sejam colocadas de forma mais clara para o povo brasileiro. E o que eu posso afirmar é que esses dois grandes eventos no Brasil, especialmente a Copa do Mundo, não vão ser eventos para o povo brasileiro, principalmente por causa dos valores dos ingressos.
A Copa do Mundo no Brasil pode de fato trazer benefícios para nossa população ou vai ser mais uma fonte de corrupção? O Brasil não ganharia mais investindo nas necessidades básicas da população?
Julio Amaral Filho
Romário – Uma Copa do Mundo é importante pra mostrar o Brasil que muitas pessoas ainda não conhecem. Mas que existe infelizmente um gasto muito acima do normal, isso já está mais do que comprovado. Eu acredito que com tudo isso que se fala em relação à Copa do Mundo, com toda essa discussão que um evento como esse gera, o momento poderia ser aproveitado para colocar exatamente o que você me perguntou: mais coisas que sejam necessárias para a população. Coisas básicas como saúde, educação. Infelizmente, na preparação da Copa do Mundo, as pessoas estão deixando isso de lado, estão esquecendo que a Copa dura apenas um mês e essas necessidades básicas já vêm de muitos anos e, se elas não forem corrigidas, continuarão por muitos ainda.
Lei seca
O senhor ofendeu algumas pessoas ao ser questionado numa rede social por não fazer o teste do bafômetro em uma blitz. No entanto, pessoas como essas certamente contribuíram para sua eleição. O senhor se arrepende desse comportamento ou faria tudo de novo em uma situação semelhante?
Carlos Henrique Pimenta - Itamarandiba/MG
Romário – Aceito crítica, amigo, não aceito é ser desrespeitado e esculachado, independentemente de quem seja. Se me desrespeitarem e me esculacharem, vão ter o troco. Não me arrependo nem um pouco.
Romário, se você é realmente a favor da lei seca e se realmente não bebeu bebida alcoólica, por que você, como uma autoridade, não deu o exemplo e fez o teste do bafômetro?
Carlos Eduardo Cardoso Fedeli, São Paulo
Romário – Amigo, respeito totalmente o seu pensamento, mas você não pode esquecer que existem leis e eu fui cumpridor da lei. Eu não soprei não só por eu não ter bebido, mas porque eu usei a lei, assim como você tem condições de usar também.
Futebol
Em qual time você acha que é mais ídolo?
Plinarco Elmano
Romário – É uma pergunta bem interessante. Eu já tive a oportunidade de jogar no Flamengo, no Vasco, no Fluminense, inclusive no América – meu time de coração. Mas acredito e vou dizer que eu sou um ídolo nacional.
Como você define Ricardo Teixeira?
Pio Barbosa Neto
Romário – Um cara que a gente tem que agradecer por ter trazido a Copa do Mundo ao Brasil e, por outro lado, um dirigente que já passou da hora de dar algumas explicações e algumas respostas para todas essas coisas que vêm sendo faladas, todas essas denúncias que vêm sendo colocadas contra ele.
Acredito que sou um ídolo nacional"
Romário
O que podemos prever para o futebol feminino, uma vez que esta modalidade, por mais que avance, não ganha a devida importância no Brasil?
Reinaldo Tavares
Romário – Temos que dar mais importância a esse esporte. A CBF, principalmente, como maior entidade do futebol no Brasil, tem que entender que a mesma atenção que é dada para o futebol masculino tem que ser dada ao feminino, senão não vai acontecer nada.
Qual foi efetivamente a participação do Zico em seu corte da Copa na França? Ele teve realmente alguma participação, mesmo não sendo o treinador nem médico da seleção?
Sebastião Fernandes de Souza Filho
Romário – Até dois, três anos atrás, achava que ele fosse o principal causador do meu corte. Mas depois de algumas entrevistas que vi e ouvi em programas de televisão e rádio e li em alguns jornais, e também depois que estive com ele, até me arrependo de ter pensado isso dele. Eu tenho certeza de que ele realmente não foi o principal, nem o causador do meu corte. E, sim, o Zagallo, o Américo Farias e o falecido Lídio Toledo, que Deus o tenha.
É fato que o Brasil não é mais o bicho papão do futebol. Será que levamos a Copa de 2014? Por que com tantas estrelas não temos um futebol convincente?
Yuri Kiuski Rocha da Silva
Romário – Porque realmente não temos tempo de fazer uma seleção forte, não temos tempo de treinar uma seleção. E também porque, infelizmente, muitos jornalistas chamam de craques aqueles jogadores que apenas são bons. Como são jovens, eu sei por experiência própria, isso sobe à cabeça e, na hora da responsabilidade, quando se coloca uma camisa da seleção brasileira é diferente do clube. Por isso, a gente vê muitos jogadores que no clube apresentam um futebol digno de serem convocados e que, na hora da convocação, não prestam o serviço que têm que prestar.
Romário de Souza Faria, de 45 anos, está em seu primeiro mandato como deputado federal pelo PSB. Foi eleito com mais de 140 mil votos
O QUE FEZ
Conquistou a Copa do Mundo de 1994 e foi eleito o melhor jogador do mundo pela
Fifa. Segundo as contas do
ex-atacante, fez 1.003 gols na carreira
O QUE DEFENDE
Suas principais bandeiras são os direitos das pessoas com deficiência e a transparência nas obras da Copa de 2014
Romário é um estreante na política. mas a pouca experiência não o faz deixar de lado as declarações polêmicas que marcaram sua carreira no futebol – além dos gols (mais de 1.000, segundo seus cálculos). Mesmo na posição de deputado federal, diz que não leva desaforo para casa. "Se me desrespeitarem e me esculacharem, vão ter o troco", afirma em resposta a perguntas de leitores de ÉPOCA sobre o episódio em que xingou pelo Twitter quem o criticou por não se submeter ao bafômetro em blitz da Lei Seca. No Congresso, Romário (PSB) tem dedicado maior tempo à defesa dos direitos das pessoas com deficiência e à fiscalização das obras da Copa do Mundo. Não deixa de opinar, porém, sobre outros assuntos, como o voto secreto na Câmara.
Política
O que o motivou a entrar para a política?
Reginaldo Leite
Romário – Foi a minha filha Ivy (filha caçula de Romário, que tem Síndrome de Down). Nestes últimos sete anos da minha vida, passei a conhecer o mundo das pessoas com deficiência. Participei de algumas reuniões pela internet – com pais que têm as mesmas condições de vida que eu, financeiramente falando, e pais que passam muitas dificuldades para tentar dar a seus filhos o que posso dar à minha filha. Entendi que essas pessoas com deficiência e também essas famílias merecem um pouco mais de respeito e atenção, principalmente em relação ao preconceito que sofrem. E acredito que eu, pela pessoa que sou e pela imagem que construí, posso ajudar muito nessa luta e graças a Deus tenho conseguido.
Você votou a favor ou contra a cassação da deputada Jaqueline Roriz?
Erisson Deodato Lima, Brasília
Romário – A favor da cassação e todo mundo sabe disso. Declarei publicamente no meu site e nas minhas redes sociais.
Você apoiaria o fim do voto secreto na Câmara? E o fim do voto obrigatório?
Vanderson Aurelio Marques de Souza, Recife
Romário – As pessoas têm o direito de saber em quem e por que seus representantes votam. Porque nós aqui somos colocados pelo povo brasileiro. Então todos têm o direito de saber o que estamos fazendo e como estamos votando em cada coisa decidida nesta Casa. Não sou a favor do voto obrigatório. Eu acredito que nós vivemos em um país democrático, livre, e seria bem mais oportuno e interessante para o Brasil que vote aquele que acha que tem que votar.
O povo tem o direito de saber o voto dos parlamentares"
Romário
Romário, o que pode fazer de concreto no combate à corrupção no meio político?
Celso Moessa de Lima, Goiás
Romário – O que posso é exatamente o que tenho tentado fazer: mostrar, principalmente dentro das minhas áreas de atuação, aquelas coisas que acredito que possam ser melhoradas. E, com os documentos que eu tenho em mãos em relação às coisas que hoje eu vivo dentro da Câmara dos Deputados – Copa do Mundo, pessoas com deficiência, combate às drogas, crianças e jovens carentes –, mostrar com transparência tudo o que vem acontecendo no Brasil. E posso dizer de verdade que estou bastante feliz em relação a isso.
Comparando sua carreira de jogador com a de deputado federal, quais estão sendo as suas maiores dificuldades? A experiência vivida no futebol está contribuindo para vencer essas dificuldades na política?
Raney Martins de Almeida
Romário – Com certeza esses meus mais de 20 anos de futebol fizeram com que eu tivesse hoje uma experiência de vida muito interessante. É claro que a convivência dentro da política é uma situação diferente do futebol, mas eu tenho certeza que, apesar do pouco tempo de política e de conhecimento de política partidária, tenho aprendido a cada dia e atribuo isso também a esses meus 25 anos de futebol. Só que é preciso deixar bem claro que a minha responsabilidade no futebol como um ex-jogador era uma e hoje, como político e parlamentar, é totalmente diferente. Não que eu não tenha tido responsabilidades como jogador, mas hoje, como um parlamentar, tenho por obrigação de deputado federal fiscalizar, acompanhar, promover o bem da sociedade. Realmente tem sido uma experiência diferente, mas bem interessante. E estou muito feliz por isso. Minha maior dificuldade é exatamente poder entender algumas coisas, já que nunca fui uma pessoa que participou muito de política, nunca li sobre política. Mas como já coloquei, o tempo faz com que a gente vá aprendendo as coisas devagar.
O que você já fez pela causa de pessoas com deficiência no Congresso?
Marcelo Santos Vianna
Romário – O relator, deputado federal André Figueiredo, acatou duas emendas minhas na MP 529. Uma delas garante que a pessoa com deficiência contratada como aprendiz acumule salário e Benefício de Prestação Continuada (BPC) por até dois anos. O BPC tem valor de um salário mínimo e é concedido a idosos e pessoas com deficiência que não exercem atividade remunerada e têm renda familiar per capita de até um quarto de salário mínimo. Se o beneficiado for efetivado na empresa, o BPC será suspenso e não mais cancelado como ocorria até agora. Caso saia do trabalho, a pessoa poderá voltar a receber o benefício sem necessidade de nova perícia. A segunda emenda assegura que as pessoas com deficiência mental ou intelectual sejam consideradas dependentes de contribuinte para fins de recebimento de pensão por morte ou invalidez, independentemente da idade. A MP foi aprovada por unanimidade na Câmara e no Senado e já foi sancionada pela presidente Dilma. Já é lei (Lei nº 12.470, de 31 de agosto de 2011) e já está valendo.
Por que o deputado não apoia a causa da PEC 270/08 (sobre aposentadoria por invalidez)?
José Brun, Camboriu
Romário – Nunca disse que não apoio a PEC 270. Pelo contrário, acho mais do que justo que a pessoa possa receber integralmente seus proventos caso se aposente por invalidez permanente. Como tenho apenas sete meses de mandato, ainda estou conhecendo e estudando os projetos de lei que tramitam na Câmara desde antes de minha entrada e por isso ainda não me posicionei publicamente a respeito deste e de tantos outros que ainda estou analisando mais profundamente.
Quais são seus projetos para os atletas com necessidades especiais?
Edson Gilmar Dal Piaz Barbosa, Curitiba
Romário – A verdade é que existem muitos projetos que andam pela Casa em relação a isso. Eu tenho lido e tenho, junto com minha equipe, estudado aqueles que são os melhores, que têm mais prioridade, e dentro disso, vamos começar a brigar, no bom sentido, para que esses projetos definitivamente virem lei.
Copa do Mundo no Brasil
Como crítico das obras da Copa do Mundo, o que acha da concorrência sigilosa para essas obras?
Luiz Carlos Marques
Romário – Uma vergonha. Eu sou totalmente a favor de que as coisas sejam bem claras. Existem portais de transparência em alguns órgãos, onde deveriam estar todas as informações. Mas nada está colocado ali. É uma total falta de respeito com o povo brasileiro.
Por que você entrou na disputa por Brasília e não por São Paulo para sediar a abertura da Copa 2014?
Franciney, Belém
Romário – Não entrei na disputa nem por Brasília nem por São Paulo. Quando me perguntaram em relação à abertura da Copa, São Paulo naquele momento não tinha levantado nenhum tipo de tijolo. Já era inclusive pra a Fifa ter feito a escolha dessa sede – que foi adiada pelo problema de São Paulo. Por isso, digo e repito que acredito que São Paulo não terá condições de fazer um estádio para abertura da Copa do Mundo nesse pouco tempo que temos. Mas se realmente acontecer o que estão dizendo, que São Paulo estará totalmente pronta pra uma inauguração de uma Copa do Mundo, é claro que eu também entendo que a cidade pode vir a abrir a Copa. Em relação a Brasília, dentro do que eu vi, é o estádio que hoje poderia dizer que realmente teria condição de também ter a abertura de uma Copa do Mundo. Mas Brasília, fora o estádio, tem os seus problemas, principalmente com mobilidade urbana. Então, em se tratando de uma Copa do Mundo e, principalmente, de uma abertura, não adianta ter só o estádio, você tem que ter tudo. Ou seja, mobilidade urbana, estádio e aeroportos. Tudo deve estar realmente capacitado para receber turistas em um número bem maior do que em qualquer outro jogo. Então, hoje, se você me perguntar qual é a cidade que está totalmente preparada para receber a abertura da Copa do Mundo, eu direi que nenhuma.
Hoje nenhuma cidade está preparada para sediar a abertura da Copa"
Romário
Seus esforços para uma melhor condução das obras da Copa e da Olimpíada vêm alcançando os objetivos esperados?
Maria Terezinha Santellano, Porto Alegre, RS
Romário – Alguns, sim; infelizmente, outros, não. Sou um dos poucos que podem dizer que estão tentando lutar, não contra o sistema, mas para que as coisas sejam colocadas de forma mais clara para o povo brasileiro. E o que eu posso afirmar é que esses dois grandes eventos no Brasil, especialmente a Copa do Mundo, não vão ser eventos para o povo brasileiro, principalmente por causa dos valores dos ingressos.
A Copa do Mundo no Brasil pode de fato trazer benefícios para nossa população ou vai ser mais uma fonte de corrupção? O Brasil não ganharia mais investindo nas necessidades básicas da população?
Julio Amaral Filho
Romário – Uma Copa do Mundo é importante pra mostrar o Brasil que muitas pessoas ainda não conhecem. Mas que existe infelizmente um gasto muito acima do normal, isso já está mais do que comprovado. Eu acredito que com tudo isso que se fala em relação à Copa do Mundo, com toda essa discussão que um evento como esse gera, o momento poderia ser aproveitado para colocar exatamente o que você me perguntou: mais coisas que sejam necessárias para a população. Coisas básicas como saúde, educação. Infelizmente, na preparação da Copa do Mundo, as pessoas estão deixando isso de lado, estão esquecendo que a Copa dura apenas um mês e essas necessidades básicas já vêm de muitos anos e, se elas não forem corrigidas, continuarão por muitos ainda.
Lei seca
O senhor ofendeu algumas pessoas ao ser questionado numa rede social por não fazer o teste do bafômetro em uma blitz. No entanto, pessoas como essas certamente contribuíram para sua eleição. O senhor se arrepende desse comportamento ou faria tudo de novo em uma situação semelhante?
Carlos Henrique Pimenta - Itamarandiba/MG
Romário – Aceito crítica, amigo, não aceito é ser desrespeitado e esculachado, independentemente de quem seja. Se me desrespeitarem e me esculacharem, vão ter o troco. Não me arrependo nem um pouco.
Romário, se você é realmente a favor da lei seca e se realmente não bebeu bebida alcoólica, por que você, como uma autoridade, não deu o exemplo e fez o teste do bafômetro?
Carlos Eduardo Cardoso Fedeli, São Paulo
Romário – Amigo, respeito totalmente o seu pensamento, mas você não pode esquecer que existem leis e eu fui cumpridor da lei. Eu não soprei não só por eu não ter bebido, mas porque eu usei a lei, assim como você tem condições de usar também.
Futebol
Em qual time você acha que é mais ídolo?
Plinarco Elmano
Romário – É uma pergunta bem interessante. Eu já tive a oportunidade de jogar no Flamengo, no Vasco, no Fluminense, inclusive no América – meu time de coração. Mas acredito e vou dizer que eu sou um ídolo nacional.
Como você define Ricardo Teixeira?
Pio Barbosa Neto
Romário – Um cara que a gente tem que agradecer por ter trazido a Copa do Mundo ao Brasil e, por outro lado, um dirigente que já passou da hora de dar algumas explicações e algumas respostas para todas essas coisas que vêm sendo faladas, todas essas denúncias que vêm sendo colocadas contra ele.
Acredito que sou um ídolo nacional"
Romário
O que podemos prever para o futebol feminino, uma vez que esta modalidade, por mais que avance, não ganha a devida importância no Brasil?
Reinaldo Tavares
Romário – Temos que dar mais importância a esse esporte. A CBF, principalmente, como maior entidade do futebol no Brasil, tem que entender que a mesma atenção que é dada para o futebol masculino tem que ser dada ao feminino, senão não vai acontecer nada.
Qual foi efetivamente a participação do Zico em seu corte da Copa na França? Ele teve realmente alguma participação, mesmo não sendo o treinador nem médico da seleção?
Sebastião Fernandes de Souza Filho
Romário – Até dois, três anos atrás, achava que ele fosse o principal causador do meu corte. Mas depois de algumas entrevistas que vi e ouvi em programas de televisão e rádio e li em alguns jornais, e também depois que estive com ele, até me arrependo de ter pensado isso dele. Eu tenho certeza de que ele realmente não foi o principal, nem o causador do meu corte. E, sim, o Zagallo, o Américo Farias e o falecido Lídio Toledo, que Deus o tenha.
É fato que o Brasil não é mais o bicho papão do futebol. Será que levamos a Copa de 2014? Por que com tantas estrelas não temos um futebol convincente?
Yuri Kiuski Rocha da Silva
Romário – Porque realmente não temos tempo de fazer uma seleção forte, não temos tempo de treinar uma seleção. E também porque, infelizmente, muitos jornalistas chamam de craques aqueles jogadores que apenas são bons. Como são jovens, eu sei por experiência própria, isso sobe à cabeça e, na hora da responsabilidade, quando se coloca uma camisa da seleção brasileira é diferente do clube. Por isso, a gente vê muitos jogadores que no clube apresentam um futebol digno de serem convocados e que, na hora da convocação, não prestam o serviço que têm que prestar.
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