Outra face da mesma pessoa
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 08/09/11
Uma das mais preciosas lições que temos nos vem da Antiguidade: “À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta”.
O que muito noto na vida é que as pessoas não são o que parecem.
Se eu tivesse de escrever um conto a respeito, inventaria um personagem humano que onde quer que fosse carregaria como sua sombra um leão.
Todos elogiavam aquela mulher como dona de muitos atributos, qualidades e virtudes. E o marido daquela mulher replicava a todos eles: “Vão viver com ela e vocês deixarão de ter essa impressão”.
Ser é uma coisa, parecer é outra bem diferente. Por exemplo, na minha rua, quando de minha infância, havia um homem que passava pelos diversos bares do bairro sem nunca entrar em nenhum deles para tomar um trago.
Todos achavam que se tratava de um homem de hábitos puros, sensato, cumpridor de seus deveres e ótimo chefe de família.
Foi se saber com o tempo que aquele homem, no recôndito de seu lar, era um alcoolista inveterado e que em meio a seus porres espancava largamente sua mulher e seus filhos.
Um homem aparentemente inofensivo, amável, atencioso pode na sua intimidade tornar-se um ser agressivo e intolerante.
As aparências enganam. O próprio chato é uma criatura que inicialmente se apresenta como alguém simpático e logo em seguida fica difícil de aturar.
Conheci, certa vez, um torturador que mostrava unhas feitas, tinha modos gentis e se dirigia a todos na rua com muita delicadeza. E, à noite, tomava conta de seu calabouço e despedaçava sua vítimas indefesas.
Isso tudo acontece porque as pessoas cuidam muito bem de sua aparência. E muitas delas tem um outro zelo mais profundo a respeito: tratam de moldar a sua aparência com tintas exatamente antípodas às de sua verdadeira personalidade.
Um homem que parece ser bom pode ser mau. E um que aparenta bondade pode ser munido de extrema crueldade.
Por isso é que muitas vezes dizemos a alguém: “Ué, não estou te conhecendo. Tu não me parecias ser assim. O que está havendo contigo?”.
É que parece que desconhecemos que um ser humano pode ter diversas faces: Hitler era pintor, Nero foi cantor e ator.
Tenhamos, pois, sempre em mente que o que é pode não parecer e o que parece pode não ser.
Um dos exemplos mais elucidativos dessa questão foi que notei que, sempre que saía nos jornais a notícia de que um pitbull ou um rottweiler estraçalhavam uma pessoa, o dono do animal, toda as vezes, declarava: “Não posso entender, ele era tão mansinho”.
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