No Trastevere
LUIZ FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 08/09/11
O rigatoni veio numa cumbuca perto da qual um dedal não se sentiria humilhado e o liquidamos com três garfadas. E como secondo? – perguntou a Blue Jeans, certa de que, para não parecermos brasileiros, não recuaríamos agora. Pedimos o secondo não por constrangimento ou respeito à tradição italiana. Era fome mesmo. Ela recomendou outra especialidade da casa, um peixe chamado “spadolini”. Espera aí. Spadolini era o ministro da Defesa na época. Não me lembro do nome do peixe. Que demorou uns bons quarenta minutos para aparecer. Como o restaurante continuava vazio, deduzimos que a demora se devia ao esmero com que estava sendo preparado.
E realmente, o próprio chef trouxe a travessa da cozinha como se fosse um filho recém-nascido. Serviu quatro pratos com cuidados cirúrgicos e os colocou na nossa frente como se seu futuro na profissão dependesse do nosso julgamento. Peixe, uma camada de batatas em cima, molho de tomate em cima das batatas. As batatas estavam cruas e no dia em que souber do seu molho de tomate o Trastevere em peso expulsará o chef e queimará seu restaurante. Foi o pior peixe jamais servido na Itália. Bom, talvez o que serviam nas masmorras do Coliseu fosse pior. Só a
conta não decepcionou a expectativa. Era altíssima.
Claro que, para cada experiência como esta, tivemos dezenas de grandes encontros com a culinária romana em várias estadas. Mas que fique a lição: quando
for a uma pizzaria bem recomendada do Trastevere e não tiver lugar – espere!
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