Efeitos imprevistos
KENNETH MAXWELL
FOLHA DE SP - 08/09/11
No quartel-general de Moussa Koussa -ex-ministro do Exterior e comandante do serviço de inteligência estrangeira de Gaddafi-, em Trípoli, representantes da Human Rights Watch encontraram documentos que mostram que a CIA e o MI6 (serviço secreto britânico) estavam envolvidos na extradição ilegal de oponentes líbios de Gaddafi e foram cúmplices em devolvê-los clandestinamente à Líbia, onde foram presos, interrogados e torturados.
O premiê britânico, David Cameron, prometeu que as alegações seriam investigadas como parte do inquérito sob o comando do juiz aposentado sir Peter Gibson, que examina o papel do Reino Unido na extradição ilegal e tortura de prisioneiros islâmicos, após o 11 de Setembro.
O ex-secretário do Exterior britânico Jack Straw negou na Câmara dos Comuns que estivesse ciente dessas atividades conduzidas pelos serviços de segurança.
Koussa desertou para o Reino Unido depois que começou o levante contra Gaddafi na Líbia, em fevereiro.
Apesar de alegações de que esteve envolvido no atentado contra o voo 103 da Pan Am, no assassinato da policial Yvonne Fletcher diante da embaixada líbia em Londres e em outros casos que interessam às famílias das vítimas do terrorismo patrocinado pelo Estado líbio, ele foi autorizado a viajar para Doha, de onde assessora a Otan quanto aos ataques aéreos contra a Líbia e sobre outras questões.
Entre os documentos encontrados no velho escritório de Koussa em Trípoli, havia um memorando que mostra até que ponto o ex-premiê britânico Tony Blair se interessava em agradar Gaddafi.
Koussa foi informado pelo MI6 de que "o primeiro-ministro deseja se encontrar com o Líder em sua tenda. Não sei por que os ingleses são fascinados por tendas. A verdade é que os jornalistas adorarão".
O resultado é a fotografia que mostra um abraço entusiasmado de Blair em Gaddafi.
Uma das vítimas das extradições ilegais é hoje o comandante das forças rebeldes que derrotaram Gaddafi em Trípoli, Abdul Hakim Belhaj, antigo líder do Grupo de Combate Islâmico Líbio (LIFG). Em fevereiro, integrantes do LIFG apelaram pela intervenção internacional contra Gaddafi.
Belhaj vivia na Malásia, em 2004. Ele foi detido na Tailândia e entregue ilegalmente à CIA, com a conivência britânica. Foi interrogado e enviado à Líbia, onde diz que foi torturado, e que representantes dos EUA e do Reino Unido estavam cientes disso.
Belhaj não quer que os maus-tratos que sofreu no passado prejudiquem as relações entre a nova Líbia e o Reino Unido. Mas disse que merece um pedido de desculpas.
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