Vade retro, corrupção!
JOSUÉ GOMES DA SILVA
FOLHA DE SP - 11/09/11
Foi muito importante para o Brasil a recente atitude de um empresário em Santa Catarina que se recusou a pagar propina a funcionários públicos para facilitar a liberação de obra na região metropolitana de Florianópolis. Entre dois caminhos possíveis, ele escolheu o melhor para a sua empresa e para o país; ainda que, em princípio, o mais difícil.
O gesto do empresário lembrou-me importante ensinamento de Jesus Cristo no Sermão da Montanha (Mateus, 7: 13-14): "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ela. Que estreita é a porta e que apertado o caminho que leva para a vida, e que poucos são os que acertam com ela".
Independentemente da questão religiosa, é inegável a sabedoria contida nas palavras de Cristo. A despeito das dificuldades a serem enfrentadas, devemos optar pelo certo e pelo honesto, rejeitando o errado. É preciso que cada um, em autêntica cruzada, cerre fileira contra a improbidade, a favor da transparência, da eficácia e da correção da gestão nos setores público e privado.
Afinal de contas, cada ato de corrupção tem dois lados: quem recebe e quem dá.
Estudo da Transparência Internacional mostra que as nações mais corruptas são as que têm as economias menos competitivas. Em recente relatório da entidade, sobre 2010, 68 países, num universo de 178, estão mais bem colocados do que o Brasil. Precisamos evoluir muito nossa posição, enfrentando com mão firme os corruptos e os corruptores.
Pagamos impostos para ter saúde, educação, segurança e receber investimentos governamentais, como em saneamento básico e infraestrutura. A corrupção consome parte desses recursos, reduzindo a eficiência dos serviços e das obras, impedindo a tão reclamada racionalização da carga tributária.
Estimativa apresentada pelo economista Marcos Fernandes da Silva em reportagem da Folha(especial Corrupção, 4/9) concluiu que a corrupção custou ao Brasil o equivalente a uma Bolívia, entre 2002 e 2008. É preocupante.
A receita fiscal tem crescido de modo expressivo no Brasil, apontam estudos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Neste ano, pagaremos mais de R$ 1 trilhão em tributos à União, aos Estados e aos municípios. São recursos que, estancada a corrupção, contribuirão em muito para um Brasil melhor e mais desenvolvido.
Para tornar isso possível, é necessário que todos se pautem pela atitude do empresário catarinense que optou pela porta estreita da ética. Se a sociedade fizer sempre o correto, impediremos que o dinheiro dos impostos se perca no ralo da improbidade.
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