O PSD, críticas e crenças
GILBERTO KASSAB
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/04/11
Criar um novo partido, reunir companheiros em torno de princípios: esse é um desafio que eu tinha o direito e que tenho o dever de enfrentar
O mundo caiu na minha cabeça. Dizem que eu tenho cabeça dura, mas tenho, acima de tudo, convicção da minha decisão e do caminho a seguir. Criar um novo partido, reunir companheiros em torno de princípios e da crença em outra maneira de fazer política -esse é um desafio que eu tinha o direito e que tenho o dever de enfrentar.
Tenho 17 anos de vida pública. Fui de vereador a prefeito. Como os que já viveram os embates da linha de frente da política e da administração pública, enfrentei dificuldades, tive bons e maus momentos.
Aprendi muito. Os que agora nos unimos no PSD (a exclusividade da denominação depende do registro da sigla na Justiça Eleitoral) teremos humildade para continuar aprendendo e seremos fortes e perseverantes nessa empreitada.
Acreditamos que chegará o momento da tão esperada concentração partidária. Mas o PSD crê que a experiência pluripartidária brasileira ainda não se esgotou. Tem características próprias, é ainda um processo em andamento.
Com as grandes transformações políticas das últimas duas décadas (tão recentes!) vividas pelo Brasil e pelo mundo, o PSD tem consciência do espaço a ocupar e das bandeiras a defender. Nossa Constituição é de 88, há muitas reformas a fazer. Entre elas, a reforma política. O PSD acredita que a discussão dessa concentração partidária, por exemplo, está no cerne da reforma.
Nas últimas décadas, tivemos governantes que se esforçaram para o avanço democrático e social e para o desenvolvimento econômico. Não foram de direita nem de esquerda. Não se submeteram a rótulos, tampouco se renderam a recaídas autoritárias.
Deixando o DEM, estranham que eu torça pelo sucesso da presidente Dilma. Que reconheça as virtudes de José Serra. Que faça parcerias administrativas com Geraldo Alckmin. A luta partidária não é conflitante com a convivência administrativa. Esse espírito federativo é uma das nossas bandeiras.
O PSD será uma trincheira de onde vamos defender nossos sonhos. Acreditamos na democracia, na liberdade, no exercício legítimo das forças do mercado, na atuação de um Estado ativo e cumpridor de suas ações sociais. Na atuação dos movimentos populares que defendam interesses legítimos, que contribuam para o fortalecimento da cidadania. O PSD acredita num governo guardião da lei, distante dos radicalismos, cada vez mais próximo dos que mais precisam.
Temos instituições fortes, mas nem por isso imunes às transformações: a democracia carrega os genes da autoavaliação e do aperfeiçoamento. Temos atores vigilantes, como a mídia, cada vez mais conscientes do seu papel. Temos um Judiciário cada vez mais independente e defensor das normas constitucionais e republicanas.
O Legislativo, como em todo o mundo democrático, enfrenta ainda hoje um forte fogo cruzado. Já foi humilhado, constrangido, perseguido, cassado. Com seus defeitos e qualidades, assumiu compromissos e se expôs. A classe política sabe que tem um dever com os eleitores que representa.
O PSD crê no amadurecimento da política, na participação ativa e crítica da sociedade, na transparência da administração, no desenvolvimento sustentável e na convivência altiva com parceiros internacionais que respeitem os direitos e a dignidade de seus cidadãos.
Estou trabalhando muito como prefeito de São Paulo -e nunca será o bastante, dada a dimensão dos problemas da nossa capital. Farei mais, lutarei até o fim do mandato.
Contudo, neste momento em que lançamos o PSD, não é hora de falar dos feitos nem de ficar olhando para trás, mas, sim, de pensar no futuro. Com desprendimento, espírito público e amor pelo país que queremos construir.
GILBERTO KASSAB-engenheiro e economista, é prefeito da cidade de São Paulo. Foi secretário municipal de Planejamento (gestão Pitta).
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