Produção de energia no RN é adiada por falta de linha
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/04/11
A produção de energia em pelo menos 20 parques eólicos do Rio Grande do Norte vai atrasar em oito meses devido à falta de linhas de transmissão (linhão), segundo empresários do setor.
Os parques deveriam começar a operar em janeiro de 2013, mas o linhão (que será licitado em maio) não estará pronto a tempo.
"O governo federal não previa que a maioria dos parques [30 de 51] arrematados no leilão de agosto de 2010 seriam instalados no Rio Grande do Norte, onde há pouca capacidade de transmissão", diz o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Benito Gama.
Para escoar a energia que será produzida, algumas linhas precisarão ser reforçadas, outras, construídas e ainda será necessário erguer uma subestação.
As empresas geradoras deveriam entregar energia a partir de janeiro, de acordo com o edital do leilão. Caso contrário, teriam de comprar o produto no mercado.
Para evitar isso, o cronograma das obras dos parques será alinhado ao da construção das linhas.
O acordo foi definido em reunião com a Aneel na última semana.
"Não é a solução ideal, mas é melhor do que as empresas terem que comprar energia", diz o secretário
Os empresários aguardam a oficialização da proposta.
No total, R$ 8,3 bilhões serão injetados em usinas eólicas no Estado até 2013. Nos parques que serão adiados, serão cerca de R$ 2,5 bilhões.
"Vai haver prejuízo para os geradores, mas foi a solução possível. Qualquer coisa diferente demandaria ação na Justiça. Prefiro um mau acordo a uma boa briga"
OTÁVIO SILVEIRA
presidente da Galvão Energia
Empresas serão prejudicadas com atraso no fluxo de caixa
Empresários obrigados a adiar o início da produção de energia dizem que terão prejuízo porque contratos com fornecedores já foram fechados e os pagamentos terão de ser feitos antes que haja um fluxo de caixa.
Otávio Silveira, presidente da Galvão Energia, afirma que precisará alterar os planos que tinha para as obras de seus quatro parques que dependem do novo linhão.
O total dos contratos da Galvão no Rio Grande do Norte é de R$ 400 milhões. A empresa planeja investir R$ 2 bilhões em energia eólica nos próximos sete anos.
Outra afetada pelo atraso é a Bioenergy. O presidente da empresa, Sérgio Marques, diz que já pagou por alguns equipamentos dos parques. A Bioenergy terá colocado R$ 340 milhões em suas usinas do Estado até 2012.
Outras quatro empresas precisarão mudar seus cronogramas.
"O atraso tira, pelo menos, o risco de exposição dos investidores, mas posterga o início das nossas operações e mostra a falta de planejamento do governo federal"
SÉRGIO MARQUES
presidente da Bioenergy
O QUE EU ESTOU LENDO
Alexandre Schwartsman, ex-BC
Ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, Alexandre Schwartsman lê "The Language Instinct" ("O Instinto da Linguagem", Martins Editora), de Steven Pinker. O autor explica o funcionamento da linguagem e como as crianças aprendem. "Explora o trabalho do [linguista] Noam Chomsky e argumenta que a linguagem é um instinto humano, moldado pela evolução." Doutor em economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley, Schwartsman acabou de ler "Why The West Rules - For Now", de Ian Morris, ed. Farrar, Straus and Giroux. "É um apanhado de milênios de história. O ponto de partida é que a geografia, mais do que as pessoas, é a responsável por padrões de evolução. A partir de um índice, Morris constrói um painel das sociedades ocidental e oriental e mostra por que uma prevaleceu sobre a outra, à exceção dos séculos 6 e 18", diz.
DEFASAGEM ESTRUTURAL
A situação da infraestrutura brasileira é semelhante à de El Salvador, de acordo com pesquisa da EIU (Economist Intelligence Unit).
O Brasil obteve 47 dos 80 pontos possíveis e ficou na 55ª posição entre as 82 nações analisadas no estudo.
Apesar do resultado, a consultoria ponderou que o país receberá grandes investimentos nos próximos anos devido à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016.
A expectativa, segundo a EIU e o BNDES, é que o governo federal invista em infraestrutura, entre 2010 e 2013, 56% a mais que o realizado de 2005 a 2008.
O Chile foi o país latino-americano mais bem avaliado, com 56 pontos.
Exportações para a Tunísia crescem 288% em um ano
As exportações do Brasil para a Tunísia no primeiro bimestre de 2011 cresceram 288% em relação ao mesmo período do ano passado.
O crescimento coincide com a instalação do novo governo após a queda do ditador Zine Ben Ali, em janeiro.
O incremento comercial, de 31,4% apenas entre o último bimestre de 2010 e o primeiro deste ano, é consequência de dois fatores, segundo a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
"Já havia uma tendência de alta, mas, além disso, o novo governo reforçou o abastecimento de comida para evitar novas rebeliões", diz o secretário-geral da entidade, Michel Alaby.
Os cinco produtos que renderam as maiores receitas ao Brasil no comércio bilateral em 2011 foram alimentos.
Quatro deles, como milho e trigo, não eram exportados para a Tunísia em 2010.
"O governo tunisiano também está comprando mais alimentos devido ao fluxo de refugiados que tem recebido com os conflitos na sua vizinha Líbia", diz o cientista político Thiago Rodrigues.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ
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