Crescer com inflação menor
ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 03/04/11
O BC admitiu que não trabalha mais para trazer a inflação para a meta de 4,5% este ano, o que somente seria possível a um custo muito econômico elevado. Mesmo adiando medidas mais agressivas para conter a demanda e os preços, o Copom baixou a estimativa de crescimento do PIB de 4,5% para 4% este ano. Reduzi-lo ainda mais representaria "custo demasiado elevado." O BC trabalha, agora, com uma inflação de 5,6% este ano e 4,6% no próximo.
A informação provocou uma reação maior que deveria. Na verdade, ninguém acreditava em inflação de 4,5%. Ela só poderia ser alcançada com medidas de contenção econômica que nem o BC, nem o governo e nem o País precisam ou podem aceitar. A economia brasileira cresceu 7,5% em 2010 com uma inflação alta, mas controlada.
E não fugiu do controle porque o BC aplicou uma severa política monetária. Elevou juros, reduziu prazo, retirou liquidez do sistema. Basta lembrar que em apenas um ano, os juros aumentaram 300 pontos-base. Saíram de 8,75% em março de 2010 para 11,75% hoje. Foi um política dura e progressiva na medida em que a economia era contaminada pela alta dos preços das commodities e dos serviços. Basta lembrar que só neste ano, o BC elevou o juro em 100 pontos-base e realizou forte aperto da liquidez do mercado. Sem essas medidas, a inflação teria passado e muito de 6%. Dilema inaceitável. No fundo, o BC e governo estão diante de um dilema que não podem aceitar. Inflação estabilizada ou forte desaceleração do crescimento econômico, destruindo tudo o que foi conseguido depois da recessão. É um dilema inaceitável porque pode ser evitado por meio de políticas fiscais agressivas e monetárias bem medidas.
E é, felizmente, o que está acontecendo. O governo não só anunciou, mas já está cortando gastos. Os resultados serão mais sentidos no terceiro trimestre.
Até aonde pode ajudar? A política fiscal terá um papel decisivo nesta nova estratégia de controle da inflação. A ata do Copom dedica um capítulo para analisar seu peso na contenção da demanda e dos preços. Avaliações feitas pelos economistas do BC concluem que a redução de um ponto porcentual na relação entre gasto público e o PIB, em um ano, "tem impacto significativo na inflação." Analistas do mercado financeiro concordam. Em pesquisa feita pelo BC dizem que um esforço fiscal por um ano, equivalente a 1% do PIB, combinado com política monetária acomodatícia, provaria um recuo entre 0,3 e 0,8 ponto porcentual na inflação. Ou seja, ajuste fiscal, refletido por aumento do superávit que o governo reafirma irá cumprir, e uma política monetária menos agressiva, podem trazer a inflação para a meta de 4,6% no próximo ano. E sem provocar choques na economia.
Neste cenário, a valorização do real, volta a preocupar. Aqui, sim, um dilema que pode ser, diríamos, "administrado". O real valorizou-se 40% desde 2009, com a forte entrada de investimentos financeiros e diretos no País. Só em fevereiro, foram US$ 100 bilhões. Existe uma liquidez impressionante no mercado internacional, onde há cada vez menos lugares seguros para investir. Há também o aumento das exportações de commodities, trazendo mais dólares para o mercado.
O custo de absorver essa avalanche de dinheiro é insustentável. As reservas podem passar de US$ 400 bilhões ao preço da dívida interna. Os exportadores de produtos industriais estão sendo prejudicados, perdendo espaço no mercado mundial, proclamam os mais alarmados.
Será? Não é bem assim. O dólar desvalorizado por muito tempo não é bom, mas ajuda a conter a pressão sobre os preços internos. Sem importações mais baratas, certamente a inflação seria maior. Quanto as exportações de produtos industriais, é preciso ir com calma. Elas não aumentaram muito nem mesmo quando o dólar estava alto. As indústrias estão sendo beneficiadas pelo dólar fraco, importam matérias primas e componentes.
E então? A pergunta de sempre neste pé de coluna. Então que não há nada de mais grave acontecendo no pais. O BC ajustou a política monetária para evitar choque brusco na economia, a política fiscal caminha, a safra agrícola bate recorde, os investimentos diretos em produção estão aumentando, a economia cresce menos, mas continua crescendo sem pressionar muito a inflação. É isso.
E então, senhores, nada de assustar a gente, por favor. Se quiserem, deem uma olhadinha para ver que está acontecendo lá á fora.
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