Chuva e chá
VERISSIMO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/01/11
Chove desde que o mundo é mundo. Chove desde que gente já se conhecia por gente mas ainda achava que chuva era xixi dos deuses, ou coisa parecida. À negligência das autoridades atuais responsáveis por tragédias causadas pela chuva deve-se acrescentar este estranhamento atávico: depois de milhões e milhões de anos, a chuva ainda nos pega de
surpresa. Claro, as tragédias vêm com o excesso de chuva, com o anormal, com o improvável. Mas assim como se proíbe construções na encosta de vulcões mesmo dormentes prevendo a erupção, devíamos estar sempre preparados para a pior consequência imaginável das chuvas. Mas se mesmo a chuva normal nos causa espanto – “Meu Deus, o que é isso? Água caindo do céu!” – o que dirá a hipótese de chuva destruidora? Ainda não sabemos o que fazer com ela. Talvez em mais alguns milhões de anos a gente se acostume.
TEA PARTY
O movimento chamado Tea Party tirou seu nome de um episódio de revolta de colonos americanos contra a coroa inglesa em 1773, um dos antecedentes da guerra de independência dos Estados Unidos. Protestavam contra a taxação do chá pelos ingleses e o monopólio da Companhia das Índias Orientais das importações na colônia. Quando um navio inglês ancorado em Boston se recusou a voltar com chá rejeitado pelos colonos para a Inglaterra estes invadiram o navio e jogaram o chá no mar. A revolta atual não tem nada a ver com chá, é contra o governo do Barack Obama. Que, segundo a direita radical, está levando o país para o socialismo com medidas como a implantação de um programa universal de saúde pública igual ao que existia em todos os países adiantados do mundo, menos nos Estados Unidos. Nem todos os republicanos que voltaram a dominar o Congresso americano depois da última eleição legislativa seguem a linha extremista do Tea Party mas o partido está mobilizado para derrubar o plano de saúde do Baraca, que já comparam ao Hitler, e inviabilizar seu governo. Uma das líderes do movimento Tea Party é a Sarah Palin, que antes das recentes eleições publicou um mapa dos Estados Unidos no qual todos os estados em que candidatos que apoiavam o plano de saúde ou outra iniciativa do presidente combatida pelo Tea Party deveriam ser derrotados apareciam assinalados com um círculo imitando a mira de uma arma. Um desses candidatos a serem abatidos era Gabrielle Giffords,
que no sábado passado levou um tiro na cabeça. Não se sabe o que motivou o criminoso, que matou seis, incluindo uma criança, além de ferir Gabrielle. Mas a Sarah Palin está tendo que se explicar. Uma das suas assessoras já disse que os círculos no mapa não eram miras, mas visores de agrimensura. Não colou.
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