domingo, janeiro 16, 2011

CELSO MING

Novo aperto nos juros
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 16/01/11

Nesta quarta-feira, a primeira reunião do Copom sob a direção do novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deverá decidir-se por nova alta dos juros, provavelmente de 0,5 ponto porcentual. Se isso se confirmar, a Selic subirá para 11,25% ao ano.

A inflação de 2010 saltou para 5,91% ao ano porque foi turbinada pelo aquecimento da economia. Esse efeito ainda não foi atacado. A esse se juntam agora outros dois: a forte alta das commodities internacionais e o efeito da desorganização da distribuição de alimentos em consequência das chuvas.

Além da providência institucional de combater a inflação e seus desdobramentos, a decisão do Copom deverá passar mais dois recados: o de que nada de substancial muda na determinação de observar à risca o regime de metas de inflação; e o de que o Banco Central mantém intacta a autonomia administrativa no cumprimento do seu mandato de defender a moeda.

Mas as questões de fundo continuarão em aberto. O Brasil aprofunda sua posição de campeão mundial em juros, fato que produz dois efeitos colaterais adversos: o primeiro é o de que aumenta um dos maiores custos da atividade econômica, o que tira competitividade do produto brasileiro; o segundo é o de que atrai dólares (ou, no que dá no mesmo, desestimula sua saída), fator que também tira competitividade, porque contribui para manter deprimidas as cotações da moeda estrangeira no câmbio interno e mantém excessivamente caro em dólares ou em euros o produto brasileiro.

Assim, do ponto de vista de quem luta para evitar a excessiva valorização do real, essa alta dos juros é um sério estorvo. E, no entanto, os juros aumentam porque, para todos os efeitos, do ponto de vista do governo, mais importante do que evitar a entrada de dólares é o combate à inflação.

A alta dos juros poderia ser evitada ou, pelo menos, reduzida, se o governo usasse dois outros instrumentos contra a esticada dos preços: a austeridade na administração das contas públicas e providências destinadas a reduzir outros fatores responsáveis pelo alto custo Brasil, como impostos caros demais, infraestrutura precária, custo elevado da Previdência Social... e por aí vai.

Até recentemente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, combatia a disposição do Banco Central de cumprir seu papel de calibrar o volume de dinheiro na economia (política monetária) de maneira a manter a inflação dentro da meta que, nos últimos seis anos, foi de 4,5% ao ano (com 2 pontos porcentuais de escape tolerado, tanto para cima como para baixo). No entanto, Mantega passou a admitir que a política fiscal (administração das contas públicas) deva ser acionada "para abrir espaço para a queda dos juros".

É o reconhecimento de que a gastança do setor público cria renda e consumo a velocidade maior do que a capacidade de oferta e , portanto, cria inflação. E é o reconhecimento, também, de que os dois últimos anos do governo Lula deixaram o Banco Central praticamente sozinho na tarefa de combater a alta dos preços.

Por enquanto, não houve tempo ainda para a criação desse espaço mencionado por Mantega e, mesmo se houvesse, o que se poderia esperar, no momento, é que os juros não subam tudo o que têm de subir para conter a inflação. Em todo o caso, os pronunciamentos feitos até agora pela presidente Dilma Rousseff indicam que a determinação do governo é mesmo essa. A conferir.

Mais demanda

Alguns analistas ainda veem essa alta como consequência da especulação. É muita vontade de passar tranquilidade. No entanto, os estoques estão baixos, os países emergentes da Ásia estão comprando cada vez mais e os países ricos começam a sair da crise, situação que deve aumentar a demanda.

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