Big Bang
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/04/10
Foi por causa do acelerador de partículas. Enquanto os prótons voavam feito baratas tontas dentro da engenhoca na Suíça, lembrei-me dos atentados na Rússia, das denúncias contra os padres pedófilos, dos terremotos no Haiti e no Chile, das execuções em massa no Irã, dos presos políticos em Cuba, dos cativeiros das Farc na selva colombiana, do degelo no Ártico, das enchentes em São Paulo e de outros desaires recentes, e comecei a me perguntar se, há bilhões de anos, não teria sido mais sensato adiar o Big Bang ou mesmo desistir de criar o universo.
Pouco depois, ao constatar que somos contemporâneos do panetone de José Roberto Arruda, da tunga dos royalties do petróleo por Ibsen Pinheiro, das cabriolas da família Sarney com o dinheiro público, do mau humor de Dilma Rousseff, da letargia de José Serra, da comoção nacional pelo Big Brother e da tomada do poder na música brasileira pelas duplas sertanejas, cheguei à conclusão de que o Big Bang, definitivamente, não foi uma boa ideia. Melhor seria se continuasse a pasmaceira cósmica.
Mas, ao mesmo tempo, lembrei-me da primeira vez em que assisti no cinema à fita em série "Perigos de Nyoka"; li os contos de Dorothy Parker; ouvi "Fotografia", de Tom Jobim, com Sylvinha Telles; vi o Flamengo de Zico, Junior, Leandro, Adílio, Andrade, Carpeggiani, Nunes e grande elenco; conversei com Moacyr Luz e Aldir Blanc; e comi maniçoba, a feijoada paraense, de uma carrocinha fumegante, em prato de plástico, na rua, em Belém do Pará. Enfim, ali achei que, pensando bem, o Big Bang até que viera na hora certa.
Finalmente, ao me dar conta de que sou contemporâneo dessa nova geração de garotas que perfumam de sal, iodo e sabonete as tardinhas do Leblon, concluo que, na verdade, o Big Bang chegou tarde.
Pouco depois, ao constatar que somos contemporâneos do panetone de José Roberto Arruda, da tunga dos royalties do petróleo por Ibsen Pinheiro, das cabriolas da família Sarney com o dinheiro público, do mau humor de Dilma Rousseff, da letargia de José Serra, da comoção nacional pelo Big Brother e da tomada do poder na música brasileira pelas duplas sertanejas, cheguei à conclusão de que o Big Bang, definitivamente, não foi uma boa ideia. Melhor seria se continuasse a pasmaceira cósmica.
Mas, ao mesmo tempo, lembrei-me da primeira vez em que assisti no cinema à fita em série "Perigos de Nyoka"; li os contos de Dorothy Parker; ouvi "Fotografia", de Tom Jobim, com Sylvinha Telles; vi o Flamengo de Zico, Junior, Leandro, Adílio, Andrade, Carpeggiani, Nunes e grande elenco; conversei com Moacyr Luz e Aldir Blanc; e comi maniçoba, a feijoada paraense, de uma carrocinha fumegante, em prato de plástico, na rua, em Belém do Pará. Enfim, ali achei que, pensando bem, o Big Bang até que viera na hora certa.
Finalmente, ao me dar conta de que sou contemporâneo dessa nova geração de garotas que perfumam de sal, iodo e sabonete as tardinhas do Leblon, concluo que, na verdade, o Big Bang chegou tarde.
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