Apagando o passado
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/11/09
Deve ser difícil mostrar Gainsbourg sem um cigarro na mão ou longe de uma nuvem de fumaça. Fumar era sua principal atividade, exceto – talvez – quando estava fazendo amor com Brigitte Bardot, Jane Birkin, Catherine Deneuve, Isabelle Adjani e outras. As mulheres gostavam dele, pouco se importando se fumava ou não.
Se a moda pega, os franceses terão de expurgar grandes expoentes de sua cultura moderna. O poeta Jacques Prévert, por exemplo, nunca foi fotografado sem um Gitane ou um Gauloise na boca. Jean-Paul Sartre e Albert Camus idem. E, como eles, os atores Jean Gabin, Michelle Morgan, Charles Boyer, Yves Montand, Simone Signoret , Jeanne Moreau, Jean-Paul Belmondo. O cineasta Jean-Luc Godard. Os cantores Serge Reggiani, Jacques Brel, Charles Aznavour.
Há meses, o metrô de Paris já havia alterado eletronicamente o clássico cartaz de Meu Tio, o filme de Jacques Tati, removendo o cachimbinho de M. Hulot, seu personagem. Prevê-se que, no futuro, outros personagens também serão “corrigidos”: o aventureiro Arsène Lupin perderá sua piteira; o inspetor Maigret, o cachimbo; o capitão Haddock, de Tintin, também.
A França faz bem em proibir o fumo ao vivo em seus ambientes internos – poucos países fumaram tanto no século 20. Mas a boba tentativa de apagar o cigarro de seu passado não faz jus a um povo de que não se sabe o que mais admirar, se os vícios ou as virtudes.
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