E o Brasil se absteve
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/11/09
QUATRO dias após a passagem por Brasília do líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, o Itamaraty teve a primeira oportunidade de aplicar os princípios de política externa enunciados pelo presidente Lula diante de seu homólogo iraniano. O resultado foi frustrante.
Motivada pelas reiteradas protelações e falsidades do regime dos aiatolás acerca de seu projeto nuclear, a Agência de Energia Atômica da ONU (AIEA) propôs ontem uma moção de censura contra o Irã. Vinte e cinco dos 35 países com voto na organização endossaram a proposta -incluindo China e Rússia, que tradicionalmente resistem a pressionar o país persa. O Brasil simplesmente se absteve.
Pela primeira vez em quatro anos, a AIEA -que optava por um trabalho mais discreto, na expectativa de obter a colaboração das autoridades xiitas- subiu o tom publicamente contra o Irã. Motivou a sanção a falta de informações sobre as atividades de uma usina de processamento de urânio numa base da Guarda Revolucionária do Irã, cuja existência vinha sendo escondida da comunidade internacional.
Diante de mais esse indício de que o regime islâmico promove uma corrida às armas atômicas, em vez do alegado objetivo de produzir eletricidade, o chefe da AIEA, o egípcio Mohamed ElBaradei, declarou que as relações com o Irã chegaram a um "beco sem saída". Signatário do Tratado de Não Proliferação, o país persa está obrigado a prestar contas e a deixar-se fiscalizar pela agência multilateral, mas vem sabotando esse compromisso.
Na segunda-feira, diante de Ahmadinejad, o presidente Lula reafirmou o repúdio às armas atômicas, inscrito na Constituição do Brasil. Defendeu o uso da energia nuclear para fins pacíficos, norteado pelos tratados internacionais. Palavras ao vento, pelo visto -pois, enquanto o Irã se desvia dessa rota, o Itamaraty se omite.
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