Ilusões de ótica, de ética e oposição
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/05/09
Crise, Petrobras, BNDES, PAC etc. são temas relevantes, mas oposição os "ama ou deixa" ao sabor de marolas midiáticas |
A "MAROLINHA" foi por algumas semanas um mote da oposição, que fazia troça barata e rasa com a propaganda lulista de que o Brasil estaria vacinado contra a crise (em parte, a conversa governista da "marolinha" era também alheamento da realidade). Tão barata era a chacrinha oposicionista que PSDB, DEM e anexos já deixaram o mote de lado -como a crise não fez o estrago social e político esperado de imediato, mudaram de assunto.
A seguir, apenas por uns dias, de modo desorientado, canhestro e vergonhoso, a oposição tentou de fazer do imposto sobre a poupança o seu novo cavalinho de batalha. Mas o assunto míngua, até inesperadamente. Faz menos de uma semana, trataram de fazer da CPI da Petrobras seu estilingue contra o paredão da popularidade do governo. Mas, entre outros reveses, a oposição começou dividida mesmo na proposição da CPI. O PSDB queria morder, e o DEM, por vício e rabo preso históricos, quer assoprar. Para entornar o caldo, o maior beneficiário da CPI pode vir a ser o PMDB, que passa a dispor de um novo instrumento de chantagem contra o governo Lula.
Mas tanto a crise econômica como a poupança e a Petrobras, para nem falar da associação do BNDES com empresas quebradas em aventuras cambiais ou da lerdeza do investimento público (PAC), são assuntos sérios demais para serem abandonados pela oposição, que "ama ou deixa" tais problemas ao sabor de marolas e modas midiáticas.
A crise econômica se desenrola no Brasil de modo um tanto imprevisto. Faz pouco tempo, ainda se debatia se a desvalorização do real seria crítica, causando até inflação, ou se o déficit em conta corrente seria perigoso. Bem, o problema agora parece ser o da volta do real forte; o déficit externo minguou. A crise não provocou aumento de tensão social, ao menos por ora, mas tampouco é marolinha. A princípio, concentrou-se mais na indústria extrativa e exportadora, mas, lenta e regularmente, espalha-se para o mundo "real".
O desemprego não parece aumentar. Mas a evolução do emprego formal é a pior desde que se tem registro. A criação de empregos nas maiores regiões metropolitanas tende a zero, como divulgado ontem pelo IBGE (a taxa de desemprego só não aumentou porque mais gente desistiu de procurar trabalho). Dados indiretos do nível nacional de emprego indicam aumento do desemprego. A massa salarial ainda cresce (na comparação anual), mas em ritmo menor a cada mês, assim como as vendas do comércio.
"Nunca antes" a economia reagiu tão bem a um tumulto financeiro global, decerto. A melhoria discreta da distribuição de renda e as transferências sociais amorteceram bastante tanto os impactos econômicos como sociais da crise. Mas muitos efeitos da recessão serão sentidos.
Uma CPI da Petrobras é necessária faz tempo. Mas, além de tentar encontrar um papel que comprometa o lulismo, o que pretende a oposição? Vai investigar também interesses privados e públicos que se cruzam na estatal? Por falar nisso, vai discutir a política do BNDES? Vai auditar o PAC a sério? Vai inquirir o governo sobre sua lerdeza? Enfim, a oposição vai fazer apenas chacrinha ou, enfim, vai se apresentar como alternativa política séria ao país?
A seguir, apenas por uns dias, de modo desorientado, canhestro e vergonhoso, a oposição tentou de fazer do imposto sobre a poupança o seu novo cavalinho de batalha. Mas o assunto míngua, até inesperadamente. Faz menos de uma semana, trataram de fazer da CPI da Petrobras seu estilingue contra o paredão da popularidade do governo. Mas, entre outros reveses, a oposição começou dividida mesmo na proposição da CPI. O PSDB queria morder, e o DEM, por vício e rabo preso históricos, quer assoprar. Para entornar o caldo, o maior beneficiário da CPI pode vir a ser o PMDB, que passa a dispor de um novo instrumento de chantagem contra o governo Lula.
Mas tanto a crise econômica como a poupança e a Petrobras, para nem falar da associação do BNDES com empresas quebradas em aventuras cambiais ou da lerdeza do investimento público (PAC), são assuntos sérios demais para serem abandonados pela oposição, que "ama ou deixa" tais problemas ao sabor de marolas e modas midiáticas.
A crise econômica se desenrola no Brasil de modo um tanto imprevisto. Faz pouco tempo, ainda se debatia se a desvalorização do real seria crítica, causando até inflação, ou se o déficit em conta corrente seria perigoso. Bem, o problema agora parece ser o da volta do real forte; o déficit externo minguou. A crise não provocou aumento de tensão social, ao menos por ora, mas tampouco é marolinha. A princípio, concentrou-se mais na indústria extrativa e exportadora, mas, lenta e regularmente, espalha-se para o mundo "real".
O desemprego não parece aumentar. Mas a evolução do emprego formal é a pior desde que se tem registro. A criação de empregos nas maiores regiões metropolitanas tende a zero, como divulgado ontem pelo IBGE (a taxa de desemprego só não aumentou porque mais gente desistiu de procurar trabalho). Dados indiretos do nível nacional de emprego indicam aumento do desemprego. A massa salarial ainda cresce (na comparação anual), mas em ritmo menor a cada mês, assim como as vendas do comércio.
"Nunca antes" a economia reagiu tão bem a um tumulto financeiro global, decerto. A melhoria discreta da distribuição de renda e as transferências sociais amorteceram bastante tanto os impactos econômicos como sociais da crise. Mas muitos efeitos da recessão serão sentidos.
Uma CPI da Petrobras é necessária faz tempo. Mas, além de tentar encontrar um papel que comprometa o lulismo, o que pretende a oposição? Vai investigar também interesses privados e públicos que se cruzam na estatal? Por falar nisso, vai discutir a política do BNDES? Vai auditar o PAC a sério? Vai inquirir o governo sobre sua lerdeza? Enfim, a oposição vai fazer apenas chacrinha ou, enfim, vai se apresentar como alternativa política séria ao país?
Nenhum comentário:
Postar um comentário