Como, em política, ninguém prega prego sem estopa, a série de movimentos aparentemente desconexos dos últimos dias mostra que a doença da ministra Dilma Rousseff está colocando a classe política em polvorosa, em busca de uma porta de saída para o impasse da sucessão presidencial. A solução mais óbvia, nem por isso mais fácil, é a possibilidade de Lula vir a disputar um terceiro mandato consecutivo.
Mesmo sem a certeza de sucesso, essa é a única solução que contaria com o apoio maciço da base governista e dos chamados "movimentos sociais", o que daria ao nosso país um ar, digamos assim, "bolivariano", que pode atender aos interesses imediatos desse grupelho político que vive à custa do poder, mas certamente fará muito mal à biografia do líder operário que tem ânsias de se transformar em líder internacional.
Lula já revelou a mais de um interlocutor que pretende criar uma ONG quando deixar a Presidência para levar pelo mundo sua luta contra a miséria, com foco especial na África.
Aceitando a manobra de mudar a Constituição para disputar um terceiro mandato consecutivo, estará abrindo mão dessa atuação nos centros decisórios do mundo para se transformar em mais um dos muitos políticos bananeiros que dominam a cena latino-americana.
Há movimentos mais sofisticados, como a tentativa de reduzir para seis meses o prazo de filiação partidária, o que daria mais tempo para que a real situação física da ministra Dilma fosse avaliada.
E, evidentemente, mais tempo também para que políticos rearranjem o tabuleiro eleitoral. O objetivo mais evidente dessa manobra, capitaneada pelo PMDB, é dar ao governador de Minas, Aécio Neves, mais prazo para pensar na possibilidade de trocar de legenda e disputar a Presidência da República fora do PSDB.
Um corolário dessa medida seria outra, que já foi tentada uma vez sem sucesso: reduzir também para seis meses antes da eleição o prazo para alterações no sistema eleitoral. Os "neoqueremistas" ganhariam mais tempo para suas manobras continuístas.
Da mesma maneira que Lula já não descarta tão peremptoriamente a possibilidade de vir a disputar um terceiro mandato consecutivo, também o governador de Minas Gerais já não nega de bate-pronto a possibilidade de mudar de partido.
Dias atrás, foi convidado pelo PR para se filiar à legenda para disputar a Presidência e não negou essa possibilidade. O PR, aliás, é um bom exemplo de como se encontram perdidos os partidos da base aliada.
Ao mesmo tempo em que oferecem a legenda para Aécio disputar a Presidência, propõem, através do líder mensaleiro Sandro Mabel, a prorrogação de todos os mandatos eletivos, permitindo que Lula permaneça no cargo por mais dois anos.
Ontem, Aécio propôs ao DEM comemorar os 25 anos da Aliança Democrática, criada em 7 de agosto de 1984, que reuniu os dissidentes do PDS ao PMDB para eleger seu avô, Tancredo Neves, presidente da República.
O DEM, como herdeiro da Frente Liberal que deu José Sarney como vice de Tancredo, já aceitou. E é natural que o PMDB também participe dessa que seria uma celebração à arte da conciliação política, que Aécio quer encarnar na sua campanha para disputar a Presidência da República.
É quase nula a chance de o governador de Minas mudar de partido e partir para uma aventura, mas ele está convencido de que tem mais condições do que Serra de unir em torno de seu nome a maior parte dos partidos hoje sob a aliança governista.
Também é bastante reduzida a chance de Lula querer disputar um terceiro mandato consecutivo, mas as pressões de seu grupo político, amplíssimo em múltiplos interesses, pode mudar esse quadro.
Com o julgamento do caso do ex-ministro Antonio Palocci pelo Supremo marcado para o dia 4 de junho, a base governista pode ganhar um alento se ele for absolvido.
Não lavará de sua biografia a suspeita, quase convicção, generalizada, de que ele foi o responsável pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa na Caixa Econômica Federal, mas terá uma decisão do Supremo a seu favor para rebater as acusações de campanha.
O que seria um plano B para o caso de a candidatura de Dilma Rousseff não decolar pode perfeitamente se transformar na solução para o impasse em que a base partidária do governo se encontra.
A mais recente pesquisa do Vox Populi que a direção do PT está divulgando em Brasília, que mostra Dilma chegando à casa dos 20% das intenções de voto, é uma tentativa de frear as especulações sobre o plano B.
Seria uma boa notícia, se não houvesse dúvidas não mais sobre a viabilidade eleitoral da ministra, mas sobre sua capacidade física de aguentar uma campanha tão desgastante quanto a de presidente da República, ainda mais por uma não política, que não tem introjetadas no corpo e na mente as vicissitudes desse tipo de campanha.
E é uma péssima sinalização para um plano B. Se a "mãe do PAC", depois de mais de dois anos sendo incensada pelo presidente Lula, não consegue nem mesmo atingir os 30% do eleitorado petista tradicional, é sinal que talvez não haja mais tempo para um novo candidato surgir do bolso do colete.
A não ser que o plano B seja Lula. |
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