sexta-feira, maio 22, 2009

MELCHIADES FILHO

Efeito colateral

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/05/09

BRASÍLIA - Enfrentar o câncer com determinação e naturalidade pode servir de inspiração a muita gente. Mas o Planalto comete um erro quando, também para aquietar aliados e adversários, martela que a workaholic Dilma Rousseff irá manter intacta a pesada agenda de trabalho durante o tratamento.
Melhor seria deixar em aberto a possibilidade de a ministra se afastar eventual ou mesmo temporariamente da Casa Civil e da campanha para encarar a quimioterapia. A insistência no mito da mulher-de-ferro tem um efeito colateral: qualquer mudança no visual de Dilma, alteração de última hora em sua programação ou mal-estar devido aos remédios causa uma comoção maior do que a razoável e precipita rumores de que a candidatura está comprometida.
Reservadamente, até governistas que fazem o discurso do otimismo já se agitam em torno do "Plano B". Sabem que Dilma terá de enfrentar mais dois meses de sessões -mais dois meses de indisposições, de ausência nos palanques e de especulações em torno de sua saúde.
E sabem que, dado o estilo de comunicação adotado até aqui, será mais difícil convencer eleitores e principalmente políticos da viabilidade da candidatura quando a ministra encerrar o tratamento. Os marqueteiros terão de lidar com a desconfiança de que estão escondendo algo. Ou subestimando as chances de uma recidiva do câncer.
Por enquanto, Lula não só matou no peito a inquietação dos aliados como manifestou disposição de dobrar a aposta. "Quanto [ela] mais trabalhar, melhor", disse ontem. A bem da verdade, seria estúpido autorizar uma operação de desembarque neste momento. Não há um "B" para o "Plano B". E o "Plano A" não parou de subir nas pesquisas.
Em meio a tantas dúvidas, resta só uma certeza: a candidatura de Dilma foi invenção de Lula; sua eventual substituição será outra.

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