Perigosa matemática da CPI da Petrobras
Tales Faria
JORNAL DO BRASIL - 19/05/09
Nunca é demais lembrar aquela velha história da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Caso PC Farias, no governo Fernando Collor de Mello. Coordenador político do governo, Jorge Bornhausen, do PFL, era considerado então uma das maiores raposas políticas do país. Depois deixou de sê-lo, mas naquela época era visto assim. E vaticinou que a CPI daria em nada porque os governistas tinham maioria mais que absoluta na comissão. O então deputado Benito Gama, designado presidente, não só era do PFL como era braço direito do ultragovernista Antonio Carlos Magalhães. Mas nada disso adiantou. Desandou o controle sobre a comissão de tal forma que até Benito Gama acabou desobedecendo a ACM. E Collor foi cassado.
De outro lado tem a CPI dos Bingos. Lembra? Foi instalada em junho de 2005 para investigar a atuação do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz com a máfia dos bingos. Acabou apelidada de CPI do Fim do Mundo, porque passou a investigar todo tipo de denúncia que surgia contra o governo, já fragilizado pelo mensalão. A CPI partiu dos bingos para a suposta ligação entre o assassinato do prefeito Celso Daniel (PT) e o esquema de financiamento de campanhas; as possíveis irregularidades na Prefeitura de Ribeirão Preto durante a gestão de Antonio Palocci; a suposta doação de casas de bingo ou a remessa de dólares vindos de Cuba para a campanha de Lula, entre outros casos. Quando parecia que ia acabar com o mundo, terminou mesmo dando em nada. CPIs são assim: imprevisíveis.
Daí dizer-se, no meio político, que se sabe como começam as CPIs, mas não dá para prever como elas vão terminar. Essa CPI da Petrobras não foge à regra. Pode virar uma verdadeira CPI do Fim do Mundo. Mas pode também tornar-se uma embolada sem solução. Os governistas mais otimistas acham que a CPI vai dar em nada. Contam nos dedos uma maioria confortabilíssima: dos 11 membros da comissão, só três serão designados pela oposição (PSDB mais DEM) e os restantes oito senadores com direito a voto virão de partidos governistas: três do bloco liderado pelo PMDB, três do bloco do PT, um do PTB e um do PDT. Então, o governo pode dormir tranquilo? Nada disso.
O primeiro problema é o PMDB. Dos 19 senadores do partido, 15 disputarão a eleição de 2010, nove deles contra o PT. O líder do partido, Renan Calheiros (AL), deve indicar a si mesmo como um dos membros da comissão. E ele está em conflito aberto com o PT. Renan simplesmente não fala com o líder petista, Aloizio Mercadante (SP), nem com o ex-líder Tião Viana (AC). Ontem, Lula teve que nomear Ideli Salvatti (PT-SC) como líder do governo no Congresso a pedido de Renan. O líder do PMDB, veja só, disse a Lula que Mercadante defendia para o cargo um nome do PDT, Osmar Dias (PR), mas que o PMDB só aceitava Ideli Salvatti, uma das únicas no PT com quem Renan mantém bom relacionamento. Osmar Dias não deve estar muito satisfeito de ter sido caroneado. E vale lembrar: ele é irmão de Álvaro Dias (PR), o tucano que apareceu com o requerimento de criação da CPI.
Além disso, tem a Bahia. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, vinha sendo cogitado como forte candidato ao Senado pelo PT baiano. Então, os três senadores do Estado devem acorrer à CPI: João Durval (PDT), ligado ao mefistofélico ministro peemedebista Gedel Vieira Lima, Cesar Borges (PR), vindo das hostes de Antonio Carlos Magalhães, e o próprio filho de ACM, Antonio Carlos Júnior (DEM). Gente demais querendo a caveira do homem.
Se ocorrer o voto contrário de dois dos baianos, a maioria governista de oito a três viraria seis a cinco. Como no PTB há dois nomes que podem fazer de tudo – Fernando Collor de Mello (AL) e Romeu Tuma (SP) – o voto contrário de um deles pode inverter o placar para seis a cinco a favor da oposição. Isso acreditando que Renan Calheiros, por exemplo, fique com o governo até o final da história.
Sinceramente, não creio que a virada vá ocorrer, porque governo é governo. E este, especialmente, é um governo forte. Mas o exercício de matemática acima está sendo feito por todos os partidos. Governistas e oposicionistas de todas as cores que tentam se aproveitar de CPIs para esticar a corda ao máximo e arrancar o que puderem do governo. Administrar essa gente não é fácil. Às vezes desanda.
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