13 anos depois, ainda primitivos
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/05/09
Uma parte relevante do mundo político só se empenha no culto à personalidade do ocupante da Presidência, seja qual for
Reproduzo a seguir os trechos essenciais de texto meu publicado no dia 9 de outubro de 1996, quando se discutia a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
“Decidi (...) iniciar campanha para coletar assinaturas em emenda popular, cujo texto seria mais ou menos assim:
Artigo 1º – Todo presidente da República tem o direito inalienável de concorrer quantas vezes quiser à reeleição.
Artigo 2º – O anterior se aplica apenas quando o presidente da República se chamar Fernando Henrique Cardoso.
Artigo 3º – Se o presidente se chamar Fernando Henrique Cardoso, mas não quiser, em algum momento, concorrer à reeleição, serão convocados o Papa e a Organização das Nações Unidas para tentar demovê-lo de ideia tão contrária aos mais legítimos anseios da pátria.
Artigo 4º – Se mesmo assim o presidente Fernando Henrique Cardoso insistir em não concorrer, o direito à reeleição se transfere a seus descendentes diretos, nos termos do artigo 1º.
Revogam-se as disposições em contrário”.
Bom, agora você troca Fernando Henrique Cardoso por Luiz Inácio Lula da Silva e o texto fica absurdamente atual, apesar de ter sido publicado faz 13 anos e depois de quatro períodos presidenciais.
A atualidade do texto só demonstra que o Brasil continua politicamente primitivo. Uma parte relevante do mundo político só se empenha no culto à personalidade do ocupante da Presidência, seja qual for, e/ou em ocupar o poder e mantê-lo uma vez ocupado, sem apresentar, jamais, um projeto de país, mesmo que fosse ruim.
Torço, sem grandes esperanças, para que Lula diga publica e fortemente que não será candidato, ainda que passe a re-reeleição. Pelo menos ele seria menos primitivo que seus bajuladores.
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