ESTADÃO - 29/09
Para analistas, perda de fôlego da inflação abrirá espaço para queda forte dos juros
Ao se levar em conta as estimativas de inflação, Produto Interno Bruto (PIB) e resultado nominal das contas públicas, os analistas ouvidos pelo Banco Central esperam um céu de brigadeiro para o Brasil nos próximos quatro anos. Alguns chegam a prever um futuro para lá de animador. Com base nas projeções, é possível deduzir que esses analistas do mercado financeiro esperam um comportamento mais que exemplar dos parlamentares brasileiros, embutindo nos números para as principais variáveis macroeconômicas a aprovação praticamente intacta de medidas importantes do ajuste fiscal, como a proposta de emenda constitucional (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos à variação da inflação do ano anterior, e de reformas, como a da Previdência.
Na pesquisa semanal Focus, divulgada pelo BC, a mediana das estimativas dos analistas para o índice oficial de preços ao consumidor, o IPCA, para 2017 é de 5,07%, enquanto que para 2018, 2019 e 2020, a projeção é de 4,5%, ou o centro da meta de inflação. No Relatório Trimestral de Inflação (RTI), publicado na terça-feira, o BC prevê no cenário de referência (levando-se em conta um dólar a R$ 3,30 e uma taxa Selic a 14,25%) que a inflação em 2017 será de 4,4% e apenas 3,8% em 2018. Para os analistas, a perda de fôlego da inflação abrirá espaço para uma queda forte dos juros: a Selic deverá encerrar 2017 a 11%.
Os economistas do banco Itaú estão entre os mais otimistas. Eles projetam um crescimento do PIB de 2% em 2017 e de 4% em 2018. Para o Itaú, a inflação deve subir 4,8% em 2017, levando o BC a cortar os juros básicos para 10% no fim do ano que vem. Há ainda os mais confiantes no ciclo de corte de juros: o banco BNP Paribas espera uma taxa Selic de 9,25% ao fim de 2017. Será que tamanho otimismo é justificável?
Não faz tanto tempo que a dinâmica da dívida bruta brasileira gerava alarme entre analistas e investidores, especialmente no auge do pessimismo no governo Dilma Rousseff, levando a projeções mais altas de inflação e menor espaço para queda dos juros básicos. Muitos chegaram a dizer que, se nada fosse feito para uma redução estrutural dos gastos públicos, o Brasil caminhava para se tornar a Grécia, que ainda sofre as consequências de uma situação de insolvência fiscal. O que mudou efetivamente para essa mudança de visão sobre o horizonte macroeconômico brasileiro? O que foi aprovado desde que Michel Temer assumiu a presidência para endossar, de fato, as projeções de inflação e juros em queda e de crescimento mais acelerado da economia?
Os analistas ouvidos na pesquisa Focus esperam uma queda do déficit nominal de 9% do PIB em 2017 para 6% do PIB em 2020. Boa parte disso é em razão da expectativa de redução da Selic pelo BC, uma vez que o déficit nominal reflete as despesas com juros da dívida e também o resultado primário, ou seja, o que o governo consegue poupar antes de pagar juros. O banco Safra, por exemplo, estima que a dívida bruta brasileira saltará de 73,8% do PIB em 2016 para 79,7% do PIB em 2017. Em 2013, estava em 51,7%. Já o banco Société Générale, num cenário base de crescimento econômico moderado e de inflação e juros baixos, estima que a dívida bruta atingirá 104% do PIB em 2024. Mas os analistas do banco francês alertam: se o governo brasileiro fracassar em controlar a situação fiscal no médio prazo, esse porcentual baterá em 152% do PIB em 2030.
Com essa trajetória da dívida bruta, é possível prever que a inflação caminhará para 4,5% de forma sustentável nos próximos quatro anos e que haverá espaço para um corte agressivo da Selic até o fim de 2017? Todavia, apenas se o Congresso aprovar a PEC dos gastos com um prazo de vigência de 20 anos e, além disso, uma reforma da Previdência mais ampla (idade mínima de 65 anos, unificação dos sistemas público e privado e desvinculação dos benefícios do salário mínimo), o otimismo hoje faz sentido. Mas em 2012, quando as projeções para 2016 entraram na pesquisa Focus, os analistas chegaram a prever crescimento acima de 4% do PIB e inflação de 4,5% para este ano – mais longe do que se caminha a realidade impossível!
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