Brasil corre o risco de retroceder 25 anos, transformando-se denovo num país com inflação demasiadamente alta
Há no momento uma grande necessidade de comunicação entre profissionais da área de ciências sociais e a população em geral, sobre as medidas discutidas de ajuste fiscal. A comunicação é dificultada pelo fato de se tratarem de medidas impopulares. Um caminho possível é deixar claro que são medidas amargas de fato, mas inequivocamente mais amargas se tomadas amanhã, ao invés de hoje. O mote da argumentação pode ser o custo do atraso no ajuste.
O risco que se corre não é de uma fila de aposentados ou funcionários públicos federais sem receber seus proventos em dia. Isto pode ocorrer com um estado, como no Rio. Mas é difícil de imaginar quando há recurso implícito à emissão monetária.
Mesmo no caso limite no qual o endividamento público adicional se torna impossível por falta de credores adicionais, a história de vários países mostra que as forças políticas acabam por levar o Banco Central a emitir moeda para pagamento das contas públicas federais.
O Brasil não corre assim, como se tem dito, o risco de se transformar em um grande Estado falido. Mas sim o risco de retroceder 25 anos, transformando-se de novo em um país com uma inflação demasiadamente alta.
Como no filme “Juventude transviada”, de 1955, a situação de hoje guarda correlação com aquela dos dois carros que correm lado a lado em direção a um precipício. Neste conhecido jogo, quem salta por último e mais perto do precipício ganha a disputa. O problema é que mostrar-se mais corajoso do que o colega ao volante do outro carro implica altíssimo risco.
De um lado, tem-se o carro da política fiscal, reagindo às forças políticas com o pé no fundo do acelerador das despesas. Do outro lado, o carro da política monetária, este com o pé no fundo de outro acelerador, o dos juros. Reagindo à política fiscal expansionista e tentando controlar a inflação. À frente de ambos, o precipício do desemprego, já beirando 13 milhões de trabalhadores. E a ameaça de uma situação ainda pior, que pode rapidamente fugir ao controle.
Se o carro da política fiscal parar primeiro, o motorista da política monetária pode frear o seu carro logo adiante, evitando o desastre que ocorre no filme. Baixa os juros. Por outro lado, se o carro da política fiscal seguir firme em frente, sem dar ao carro da monetária a sensação de que vai parar, o motorista da monetária não tem opção senão se jogar do carro antes do precipício, a exemplo do que faz James Dean no filme.
Isto significa que o motorista da monetária perdeu o jogo. Daí para a frente, seu carro segue desgovernado emitindo moeda para pagar a todos os credores do governo. É o cenário ao qual os cinéfilos de plantão dão o nome de “dominância do carro fiscal”. A inflação se eleva rápida e fortemente e passa a equilibrar as contas públicas taxando majoritariamente os mais pobres.
James Dean à parte, qual o custo do atraso? Tendo-se como ponto de partida uma dívida do governo geral da ordem de 68,5% do PIB ao final de junho de 2016, um cenário possível, se continuarmos postergando o ajuste fiscal, indica algo em torno de R$ 23 bilhões adicionais apenas de pagamento de juros um ano depois. Somem-se a este montante as oportunidades e os investimentos continuamente perdidos em função da incerteza. Bem como a perda da arrecadação fiscal daí decorrente.
Ou seja, ajustar as contas custa cada vez mais caro. O custo do atraso transforma o país, dia a dia, em paraíso para o rentista e inferno para o trabalhador.
Rubens Penha Cysne é professor da FGV/EPGE
Há no momento uma grande necessidade de comunicação entre profissionais da área de ciências sociais e a população em geral, sobre as medidas discutidas de ajuste fiscal. A comunicação é dificultada pelo fato de se tratarem de medidas impopulares. Um caminho possível é deixar claro que são medidas amargas de fato, mas inequivocamente mais amargas se tomadas amanhã, ao invés de hoje. O mote da argumentação pode ser o custo do atraso no ajuste.
O risco que se corre não é de uma fila de aposentados ou funcionários públicos federais sem receber seus proventos em dia. Isto pode ocorrer com um estado, como no Rio. Mas é difícil de imaginar quando há recurso implícito à emissão monetária.
Mesmo no caso limite no qual o endividamento público adicional se torna impossível por falta de credores adicionais, a história de vários países mostra que as forças políticas acabam por levar o Banco Central a emitir moeda para pagamento das contas públicas federais.
O Brasil não corre assim, como se tem dito, o risco de se transformar em um grande Estado falido. Mas sim o risco de retroceder 25 anos, transformando-se de novo em um país com uma inflação demasiadamente alta.
Como no filme “Juventude transviada”, de 1955, a situação de hoje guarda correlação com aquela dos dois carros que correm lado a lado em direção a um precipício. Neste conhecido jogo, quem salta por último e mais perto do precipício ganha a disputa. O problema é que mostrar-se mais corajoso do que o colega ao volante do outro carro implica altíssimo risco.
De um lado, tem-se o carro da política fiscal, reagindo às forças políticas com o pé no fundo do acelerador das despesas. Do outro lado, o carro da política monetária, este com o pé no fundo de outro acelerador, o dos juros. Reagindo à política fiscal expansionista e tentando controlar a inflação. À frente de ambos, o precipício do desemprego, já beirando 13 milhões de trabalhadores. E a ameaça de uma situação ainda pior, que pode rapidamente fugir ao controle.
Se o carro da política fiscal parar primeiro, o motorista da política monetária pode frear o seu carro logo adiante, evitando o desastre que ocorre no filme. Baixa os juros. Por outro lado, se o carro da política fiscal seguir firme em frente, sem dar ao carro da monetária a sensação de que vai parar, o motorista da monetária não tem opção senão se jogar do carro antes do precipício, a exemplo do que faz James Dean no filme.
Isto significa que o motorista da monetária perdeu o jogo. Daí para a frente, seu carro segue desgovernado emitindo moeda para pagar a todos os credores do governo. É o cenário ao qual os cinéfilos de plantão dão o nome de “dominância do carro fiscal”. A inflação se eleva rápida e fortemente e passa a equilibrar as contas públicas taxando majoritariamente os mais pobres.
James Dean à parte, qual o custo do atraso? Tendo-se como ponto de partida uma dívida do governo geral da ordem de 68,5% do PIB ao final de junho de 2016, um cenário possível, se continuarmos postergando o ajuste fiscal, indica algo em torno de R$ 23 bilhões adicionais apenas de pagamento de juros um ano depois. Somem-se a este montante as oportunidades e os investimentos continuamente perdidos em função da incerteza. Bem como a perda da arrecadação fiscal daí decorrente.
Ou seja, ajustar as contas custa cada vez mais caro. O custo do atraso transforma o país, dia a dia, em paraíso para o rentista e inferno para o trabalhador.
Rubens Penha Cysne é professor da FGV/EPGE
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